EDITORIAL | Contas que não fecham

O Brasil engatou uma marcha à ré da qual não parece ter forças para sair. É muito mais que o empobrecimento que a população sente na própria carne e a regressão que se dá em todos os níveis, na educação, na cultura, ciência e inovação, áreas críticas, definidoras do futuro, em que o País vem perdendo pontos sistematicamente. Uma constatação, um registro necessário e oportuno, em especial neste momento, quando o presidente da República anuncia que sancionou o orçamento para o exercício corrente, em que exatamente as áreas críticas foram as mais afetadas, como se para estes senhores o importante fosse na realidade o desimportante.
Os números apresentados são fantásticos, na maior peça orçamentária que o País já conheceu, no total mais de quatro trilhões de reais, sendo a metade, a maior de todas as contas, destinada ao pagamento do serviço da dívida pública. Em ano de eleições e em que o presidente da República parece não ter outra preocupação, os agrados aos aliados, conquistados ou por conquistar, foram mantidos, além do esdrúxulo orçamento secreto, que beira os R$ 16 bilhões e sobre o qual não é preciso prestar contas. Ciência e tecnologia, que perderam mais de seus parcos recursos, evidentemente estão fora dessa conta, sugerindo que pesquisas muito importantes poderão ser interrompidas.
Interessante notar como tudo soa natural, contando inclusive com o silêncio daqueles que contam com as verbas, também fartas, para a campanha eleitoral. Ninguém se ruboriza, sobrando apenas alguns poucos discursos de praxe, apenas para os anais onde adormecem. Afinal, o que dizer, depois de quase dois anos de pandemia e mais de 600 mil mortos, quando é anunciado que as verbas para a saúde, que já vem minguando, sofrerão novos cortes, embora não vá faltar dinheiro para engordar ainda mais as folhas salariais, ao que tudo indica num efeito dominó que ninguém no governo deve saber como deter.
Nessa toada, só se pode esperar mais e maiores problemas à frente, ficando adiada para um ponto futuro indeterminado a tão desejada recuperação, prometida como primeira consequência da remoção compulsória da ex-presidente Dilma Rousseff, vendida como a troca de tudo de mal por tudo de bom. Para concluir, o orçamento agora apresentado, em que também não faltaram acertos difíceis de defender, desmonta ilusões e esperanças deixando como única certeza que de fato restará para quem tomar posse no próximo ano uma herança maldita a ser administrada. Haja fôlego, haja competência, haja boas intenções.
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