EDITORIAL | Controles necessários
Demorou, mas finalmente aconteceu. O que de início parecia encantador, capaz de aproximar pessoas e eliminar distâncias, se revelou uma ameaça de proporções que, na realidade, sequer podem ser avaliadas com precisão. Estamos falando das redes sociais, em especial a maior delas, o Facebook, que foi, aos poucos, mediante aquisições, se transformando em virtual monopólio, pior, com poder suficiente para controlar a publicidade e a informação globalmente, além de se transformar numa espécie de terra de ninguém, sem controles ou limites, a ponto de influenciar nas eleições nos Estados Unidos ou em decisões tão importantes quanto a saída da Grã Bretanha da Comunidade Europeia e, não nos esqueçamos, também o processo político no Brasil.
Diante das proporções da ameaça, países europeus reagiram mais rapidamente, estabelecendo restrições e controles que, embora ainda tímidos, sinalizam uma disposição alentadora.
Agora o sinal vermelho vem dos Estados Unidos, através da agência federal que regula os mercados no país e acaba de abrir processo contra o Facebook, acusado de atuar como monopólio e, pior, de atuar no sentido de evitar o surgimento de concorrentes, mediante aquisições, usando seu poder para sugar ideias novas e potencialmente ameaçadoras. O processo aberto agora será necessariamente longo e demorado, mas dificilmente deixara de pé estrutura que hoje conhecemos, tão forte que é capaz de condicionar o pensamento e até os hábitos de compra de milhões e milhões de pessoas no mundo inteiro.
A própria estratégia de defesa do Facebook, ao lembrar que não está sozinha nesse mercado ao apontar empresas como Apple, Google, Amazon, Microsoft, Twitter e outras, pode acabar se revelando um tiro no pé, ajudando a promover uma faxina mais completa.
Quem, afinal, poderia imaginar que a poderosíssima AT&T, o antigo monopólio da telefonia nos Estados Unidos, poderia ser um dia desmembrada ou que gigantes como a antiga IBM seriam forçados a abrir espaços para as transformações que vieram depois? Interessante notar que o ataque ocorre pelos flancos, tendo como alvo questões comerciais, num ambiente que deve ser de liberdade, sem qualquer referência explícita ao poder representado pelo controle da informação e, aos poucos, da publicidade, ameaça direta à liberdade de expressão e à própria democracia.
E tudo isso, repetimos com alívio, para constatarmos que a ameaça foi detectada, abrindo espaços para controles que, estes sim, refletem os desejos da sociedade, consagrando a liberdade.
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