EDITORIAL | Corrupção escancarada

Corrupção no Brasil é assunto antigo, presente já no período colonial, reforçada com a chegada de D. João VI que não poupou agrados à elite local e a seus acompanhantes forçados, passou pelo Império, onde a forma mais inocente era a distribuição de títulos de nobreza, chegou à República e aos nossos dias, agora com as denúncias horripilantes de que o velho “sabe com quem você está falando?” anda sendo usado para furar filas de vacinação.
Não deve ser por acaso que não se fala mais em “nova política” e as cores verde-amarelo agora têm outra serventia, não são mais usadas como símbolo de que a corrupção seria varrida do País. No máximo para debaixo de tapetes nos palácios ou gabinetes mais bem situados em Brasília, em governos estaduais e prefeituras. O que se percebe é que nada mudou, pelo contrário, piorou, porque agora respiradores, medicamentos e até oxigênio podem ser superfaturados, não raro com a desculpa esfarrapada de que os preços obedecem à lei da oferta e da procura. Não, absolutamente não, quando se verifica que no Rio de Janeiro milhares e milhares de frascos de soro, quantidade suficiente para décadas de consumo, foram comprados e hoje estão estocados num depósito, junto com mais 300 toneladas de remédios e outros materiais médicos que, vencidos, aguardam incineração. Cúmulo do absurdo, somente o aluguel do galpão onde este material permanece custa ao falido Estado do Rio de Janeiro R$ 1 milhão por mês.
Não é à toa que ninguém seja capaz de dizer como exatamente foram gastas as verbas extraordinárias destinadas ao combate à pandemia e ajudaram a comprar hospitais de campanha que não foram entregues ou que não funcionaram, respiradores superfaturados ou, pura e simplesmente, imprestáveis. Também sem resposta ou esclarecimento ficaram os valores pagos, a título de ajuda emergencial, a milhares de pessoas não credenciadas, aumentando, e muito, a conta do dinheiro público desviado e desperdiçado. Continua sendo altamente improvável que ainda ouçamos as respostas esperadas e, muito menos, de verdade, tantos mal feitos produzam consequências severas para seus autores.
Não foi dessa vez, não foi a virtual deposição de uma presidente, não foi a interinidade de um vice que ajudou a conspirar que mudou alguma coisa. Tampouco a eleição de um presidente que colocava o Brasil acima de tudo e a corrupção como o maior de seus inimigos. Vamos continuar esperando e, pelo visto, por muito tempo mais.
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