EDITORIAL | Danos que são letais

Está mudando, como está não poderia prosseguir, e tudo indica que é apenas o começo. Estamos falando dos sistemas de comunicação que hoje em dia alcançam bilhões de pessoas em todo o mundo, tendo como suportes a eletrônica, internet e, na ponta, redes sociais. Países mais adiantados, na Europa e na América do Norte, já se deram conta da ameaça que não é latente, ao contrário, tão real que foram ferramentas essenciais para a eleição do ex-presidente Donald Trump, ajudaram a promover o Brexit e muito provavelmente tiveram peso relevante também nas eleições presidenciais no Brasil em 2018.
Estamos falando, claro, das redes sociais, uma espécie de terra de ninguém, mas que também ajudaram a erguer algumas das maiores e mais ricas corporações da atualidade, num monopólio que claramente representa ameaça à cultura, permeando os mais diversos aspectos da vida no planeta.
O que era para o bem, para conectar e aproximar pessoas, para multiplicar infinitamente o acesso à educação e à cultura, tomou um desvio que está mais próximo das trevas que da luz, com um potencial de ameaça muitíssimo superior às ainda tímidas tentativas de contê-las, distorcendo, confundindo e desagregando, tudo em nome de falsos conceitos de liberdade e direito de informação.
Um risco tão grande que a sua contenção é apontada como uma das mais importantes – e difíceis – tarefas do recém-empossado presidente Joe Biden, que por sinal já disse que o primado da distorção, da mentira e da desinformação tem que ser revertido, sob pena de comprometimento da sociedade tal como a conhecemos e defendemos. Fato é que o virtual monopólio do controle da informação é em si uma ameaça potencial e pior ainda quando essa máquina é também uma espécie de terra de ninguém, dando abrigo a toda espécie de lixo, representando a própria negação da civilização e da cultura, de valores que não podem ser perdidos. Na Europa Ocidental, onde ações mais concretas já podem ser percebidas, o reconhecimento de que como está não pode ficar é sentido com mais clareza, talvez justamente pela distância de seus controladores e interesses econômicos.
Também da parte das operadoras desse sistema, empresas que da noite para o dia passaram a figurar entre as maiores e mais ricas do planeta, nota-se movimentação na busca de alguma forma de ajuste que, para elas, também pode ser questão de sobrevivência. Na ilusão de que poderiam promover encontros, fazem justo o contrário, num processo tóxico que, mais dia menos dia, poderá acabar por vitimá-las, claros são os sinais de que seu modelo de negócios, distorcido, pode estar sendo posto em risco. Em síntese, que o bom senso e a inteligência ainda tenham chances de sobreviver.
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