EDITORIAL | Decoro faz muita falta

Em Brasília, nos gabinetes mais bem mobiliados na administração federal, comemora-se a aprovação – no mês de abril – do Orçamento para o exercício corrente. Um alívio aparente, mas não o suficiente para esconder o medo, dizem que até mesmo do presidente da República, diante de uma peça imperfeita, na realidade uma espécie de bomba-relógio que não se sabe exatamente quando e como pode explodir. Haverá quem diga que é apenas um fruto indesejado das circunstâncias, os arranjos possíveis, mesmo que tortuosos, mas a visão pode ser também menos indulgente.
Em primeiro lugar, o desarranjo nas contas, dele resultando um déficit cada vez maior, não é assunto novo, como não é nova a imobilidade diante do que se passa. Pior que imobilidade, a terrível constatação de quanto mais falta mais se gasta, como o próprio presidente, depois de gastar uma pequena fortuna – R$ 2,4 milhões – em menos de uma semana de férias, anunciar, como que desafiando a tudo e a todos, que poderá gastar ainda mais se houver oportunidade. Mais uma vez, e aí estão os gastos sem explicação na área de saúde, fácil mesmo é constatar que na administração pública, onde dinheiro parece não ter dono, gasta-se muito e gasta-se mal.
Faltariam exemplos? Claro que não. Agora mesmo está sendo divulgado que a lista dos beneficiados com o auxílio emergencial que começa a ser pago incluiu, na versão anterior, 27 mil criminosos foragidos, procurados pela Polícia, e muitos deles já aparecem na nova listagem. O próprio Tribunal de Contas da União (TCU) que no ano passado pelo menos 54 milhões de benefícios, ou 18% do total, foram pagos indevidamente. Relaxamento, incompetência ou cumplicidade?
Cabe perguntar, também, o que estaria sendo feito para evitar que os erros do passado sejam punidos e, sobretudo, que não se repitam. Uma hipótese talvez excessivamente otimista, para apresentar um único exemplo, que apenas no Estado de São Paulo 140 golpistas e quadrilhas estão sendo investigadas atualmente. Ao mesmo tempo é confirmada a prisão de um grupo de jovens, pouco mais que adolescentes, teriam conseguido desviar, com fraudes que a informática facilita, pelo menos R$ 6 milhões.
Diante de tudo isso fica mais fácil entender porque as contas não fecham, porque no Orçamento recém-aprovado apenas o equivalente a 0,1% do Produto Interno será destinado a investimentos, na direção oposta às despesas de custeio que pagam por exemplo os vinhos importados que acabam nas mesas que servem às excelências e continuam crescendo ou que não se tenham notícias de funcionários públicos desempregados, num país onde as estimativas são de que pelo menos 20 milhões de indivíduos estão fora do mercado de trabalho.
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