Opinião

EDITORIAL | Desperdício, o mal maior

EDITORIAL | Desperdício, o mal maior
Crédito: José Cruz/Agência Brasil

Alguém já disse que no Brasil, na esfera pública, gasta-se muito e gasta-se mal. Um problema de má gestão associado a interesses que se movem nas sombras, em que pessoas que se dizem comprometidas com o serviço público, na realidade dele se servem. Neste balaio cabe de tudo. Sobre preço que alimenta desvios, falta de critérios, planejamento e controle são alguns dos problemas a apontar e que vêm de longe, dizem respeito ao sistema e não a este ou aquele governo.

Como não se lembrar da Ferrovia do Aço, nos anos 70, que foi iniciada sem projetos acabados, com trabalhos em duas frentes que deveriam se encontrar, o que nunca aconteceu. Muito dinheiro foi perdido, o que também aconteceu numa refinaria de petróleo no Nordeste, que hoje nos faz tanta falta, foi orçada num valor “X”, gastou-se mais que o triplo e as obras nunca foram terminadas. A lista se aproxima do infinito, inclui obras de todos os tipos e os valores gastos, somados, muito provavelmente bastariam para assegurar o equilíbrio das contas públicas, embora não favorecessem muitos bolsos ilustres.

E a farra não termina. Faltam escolas, todos sabemos, e em regiões mais pobres, no Norte e Nordeste, não é incomum que as lições sejam dadas debaixo de árvores. Faltam escolas, mas não faltam obras abandonadas, inacabadas ou atrasadas, um total de pelo menos 3,5 mil obras, aí incluídas também creches e quadras esportivas e com gastos que chegam a R$ 1,3 bilhão, sendo que R$ 21 milhões já foram dados como perdidos. São dados do Sistema Integrado de Monitoramento, Controle e Execução do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Com um orçamento de R$ 45 bilhões para o exercício corrente, o número apontado não parece impressionar.

Cabe imaginar a que valores chegaríamos caso fossem elencadas todas as obras públicas, independentemente de sua destinação e nas esferas federal, estadual e municipal, que se encontram na mesma condição. E então lembrar que o hoje presidente Bolsonaro, quando ainda candidato, atingiu o ponto fraco, bem ao seu estilo, ao apontar os absurdos verificados, para então acrescentar que, se eleito, não autorizaria o início de uma única obra antes de passar a régua em tudo que estava por concluir.

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Não aconteceu e tudo isso reforça a conclusão de que o problema maior, como tanto gostam de repetir políticos e gestores, não é exatamente a falta de recursos e sim as variadas formas de desperdício que dão razão a quem fez o comentário reproduzido na abertura deste texto.

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