EDITORIAL | Dever de todos nós

Vivendo uma crise institucional que pode se agravar muito até a votação de outubro e na sequência, o Brasil tem a comemorar, esta semana, notícia positiva no campo da economia. Estamos falando de análise do Fundo Monetário Internacional (FMI), que acaba de revisar para cima sua previsão de crescimento do PIB brasileiro no corrente ano, passando de 0,3% para 0,8%. Em outubro do ano passado a expectativa era de crescimento de 1,5%. Assim, o País prossegue na rota de um crescimento baixo, seja na comparação com seus vizinhos, seja globalmente, e o fôlego percebido pelo FMI é consequência da elevação de preços do petróleo no mercado mundial, no qual a participação brasileira nas exportações está atualmente na média de 2 milhões de barris/dia.
Um alívio, sem dúvida, que deveria se refletir mais nos preços dos derivados de petróleo no mercado interno e menos na macroeconomia, onde o FMI continua enxergando um panorama desfavorável, sem ganhos na oferta de emprego, na renda e no consumo, com desemprego na faixa dos 13,7%. Tudo isso sem mencionar que as estimativas – de outras fontes – são de que o governo que se instalar em janeiro próximo herdará um déficit público rondando os R$ 500 milhões. Em síntese, nada a estranhar o desconforto que o presidente Bolsonaro manifesta com alguma frequência com sua qualidade de inquilino do Palácio da Alvorada ou o fato de ter dito que preferiria estar na praia e pescando no próximo ano.
Este conjunto de informações deveria ser percebido com mais intensidade, provocando reação que deveria ir muito além das ambições de candidatos e de suas promessas fáceis. Mesmo com o alívio citado na abertura deste comentário, cabe entender, enxergar o que está pela frente para que nos ocupemos todos da tarefa de construção de um programa de Estado, de estabilização e reconstrução, abraçado pelo conjunto da sociedade e evidentemente entendido pelos futuros governantes como tarefa impositiva a ser mandatoriamente cumprida. De outra forma, não é de se imaginar que o Brasil possa sequer alcançar o tal voo de galinha, tão temido em outros tempos e agora com ares de miragem.
Estamos diante de fatos cujo reconhecimento deveria independer das preferências políticas de cada um, até porque não podem ser resolvidos com trocas de acusações, quase sempre escondendo ambições sem limites. Já bem próximos do início oficial da campanha eleitoral, que na realidade não parou por um único dia e ajuda a compreender nossos males, cabe esperar algum sinal de alento, algum compromisso com o acerto e o reconhecimento de que o Brasil acima de tudo não pode ser apenas uma frase de efeito.
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