EDITORIAL | Diferenças são oportunidades
Para fixar num ponto de referência, poderia ser a virada do século marcando o momento em que a economia brasileira entrou em processo de declínio, cuja marca mais forte foi a desindustrialização. O setor, gerador de renda, multiplicador de conhecimento e de empregos de qualidade, teve seu peso na economia nacional reduzido em pelo menos dois terços, o que também define um processo evidente de empobrecimento. Em período eleitoral e de promessas fáceis o assunto ganha destaque, sendo apresentado, dependendo das cores políticas, como um dos grandes males do País, que muitos enxergam como andando em marcha de caranguejo.
Verdade, porém num contexto mais amplo, que tem muito a ver com o comentário anterior publicado neste espaço. Foi, em grande parte, nas águas da globalização, da transferência da produção industrial para a Ásia, que a indústria brasileira foi perdendo a capacidade de competir, foi aos poucos desaparecendo. O mesmo aconteceu em boa parte do mundo ocidental, a partir da enganosa ideia de que era preciso procurar mão de obra mais barata e menos tributos, enquanto a lógica das compras obedeceria exclusivamente à oferta dos preços mais baixos. Parecia a fórmula perfeita, a melhor aplicação da lógica do mercado. Quem, afinal, pouco inteligente ou condenado ao desaparecimento, poderia dar preferência à oferta legal se o mesmo produto poderia vir da Ásia por uma fração do preço?
E de que outra forma explicar que, entre os anos de 2015 e 2020, houve extinção de 36,6 mil fábricas, conforme aponta a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo? É o mesmo que procurar entender por que o setor manufatureiro representava, em 1985, algo próximo de 24,5% do Produto Nacional Bruto (PIB) e caiu para 18,9% em 1981. Enxergar o futuro de maneira mais positiva depende certamente da nossa capacidade de inverter esta clara involução. O que estudiosos chamam de “quebra da cadeia de produção”, maneira talvez sutil de apontar a inconveniência da excessiva dependência parece ser, presentemente, a chave a ser invertida.
E o Brasil pode ter espaço nesse novo contexto, desde que enxergue e saiba aproveitar as oportunidades que se desenham. Até há pouco os investimentos pareciam tomar o rumo do Leste europeu mas a guerra na Ucrânia pode ter mudado tudo, o mesmo acontecendo com outras regiões em que a instabilidade é fruto de um longo processo histórico. Eis a diferença para o Brasil, em que as incertezas atuais em nada se comparam a processos históricos que minam relações em outras bandas do globo. Diferença e oportunidade.
Ouça a rádio de Minas