EDITORIAL | Dinheiro pelo ralo

O Estado do Rio de Janeiro, que um dia sonhou com o dinheiro fácil e farto dos royalties do petróleo, está tecnicamente falido, uma situação que só não é pior porque seus débitos com a União foram renegociados.
Ali também, e à semelhança do que acontece em quase todo o País, gastou-se muito e gastou-se mal, a tudo isso somando-se os desvios de que o ex-governador Sérgio Cabral se transformou em exemplo quase caricato. Deveria ter sido o fim de um ciclo, durante o qual cinco de seus últimos governadores chegaram a ser presos, situação em que ainda se encontram dois deles, mas não foi o que aconteceu.
Não, pelo menos, a julgar por recentes acontecimentos na Assembleia Legislativa que, ignorando a realidade e indiferente aos sentimentos da maioria da população, decidiu ampliar as benesses de seus setenta parlamentares, fazendo-o no mesmo dia em que o livro de posse pela primeira vez saiu do espaço do Legislativo para que cinco deputados presos e condenados por corrupção pudessem tomar posse.
Parece o fim do mundo e não deve estar longe disso. Sem qualquer publicidade e sem qualquer discussão, a mesa diretora decidiu criar uma espécie de ajuda de custo para cada parlamentar, que a partir de agora poderá gastar até R$ 26,5 mil por mês, exclusivamente para custeio de passagens aéreas, combustível, despesas de escritórios mantidos fora da Assembleia e outras.
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Tudo isso significando despesa anual da ordem de R$ 25 milhões, sem contar os gastos com os até quarenta assessores a que cada deputado fluminense tem direito.
Para os cariocas, um acinte e evidência de que, naquele Estado, a renovação política não alcançou nem mesmo as aparências. Os senhores parlamentares, é claro, pensam diferente e anunciam que na realidade estão economizando recursos públicos.
Segundo nota oficial, os benefícios criados com o pomposo nome de “descentralização orçamentária de custeio individualizado de gabinete parlamentar”, na realidade propiciarão redução de custos, antes na média de R$ 50 mil por mês e por gabinete, refletindo preocupação com a crise profunda em que o Estado se encontra.
Do vizinho Rio de Janeiro vem o exemplo entre tantos outros que poderiam ser lembrados para ajudar a população brasileira a entender como e porque as contas públicas chegaram à situação de desequilíbrio em que se encontram, enquanto as mudanças prometidas no geral não alcançam sequer as aparências.
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