EDITORIAL | Disputas dentro da transição

O presidente eleito, fazendo jus a sua fama de político sensível e bom articulador, fez questão de acentuar, nos primeiros momentos depois de conhecido o resultado da votação de 30 de outubro, que o novo governo não será do PT, mas da coligação que o representa. Como seria de se esperar e conhecidas as disputas internas no próprio partido, cutucou um vespeiro, com reações de contrariedade mais ou menos explícitas, somando vaidades e interesses variados.
O futuro presidente sabe perfeitamente o tamanho das dificuldades que terá pela frente, mas aparentemente não é possível afirmar o mesmo a respeito de alguns de seus pares. Aqueles que torceram o nariz para o protagonismo da futura primeira-dama ou, agora, dizem não concordar que à senadora Simone Tebet, sem dúvida alguma a menor surpresa dessa eleição e a quem parece estar reservado, naturalmente, papel destacado nos próximos anos, seja entregue o Ministério do Desenvolvimento Social, cujas asas abrigarão o Programa Bolsa Família. Sem nenhuma sutileza ou pudor, argumentam que poderia ser um poderoso nutriente para uma eventual candidatura em 2026.
Parece inacreditável, mas é fato que nada disso foi desmentido, revelando que o PT parece ter aprendido pouco com todas as pancadas que levou.
Cogitar das próximas eleições agora, sobretudo considerando que os acontecimentos até o dia 1º de janeiro ainda carregam boa dose de imprevisibilidade, é desatino, rematada irresponsabilidade, quando todas as energias deveriam estar concentradas no enfrentamento dos fantasmas que estão pela frente. Da mesma forma os exemplos apontados nos ajudam a imaginar como correm as futricas, antes mesmo que a Comissão de Transição esteja efetivamente instalada. Fica ainda o risco de que exista muita gente mais preocupada com a pilhagem que imaginam reservada aos vitoriosos que propriamente com os deveres que supostamente os aguarda.
Poderiam também ter em conta, e mais uma vez, o primeiro discurso de Lula, uma vez conhecida a vitória. Ele disse, apropriadamente, que será o presidente de todos os brasileiros e para todos governará, fazendo apelo à convergência e superação de divergências para que, de fato, as questões que mais interessam ao Brasil possam estar em primeiro plano. Uma postura, seria de se esperar, que deveria começar em casa, até para servir como exemplo.
Para concluir, quem já está pensando em 2026 que trate de se dar conta que 2023 está bem mais perto e, sobretudo, entenda que a soma de acertos que possa vir a ser reunida nos próximos quatro anos é por enquanto tarefa impositiva, da mesma forma que no momento certo, lá na frente, poderá ser a melhor credencial para eventuais candidaturas, inclusive para a senadora Simone Tebet.
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