[EDITORIAL] Dívida, gargalo mais estreito
O desajuste fiscal que o País enfrenta, frequentemente apontado como o mais sério de seus problemas e maior obstáculo à retomada do crescimento econômico, ocupa espaço nos debates e ao mesmo tempo tira do foco das atenções um assunto até mais grave. Estamos mirando o endividamento do País, que, segundo recente relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), caminha para colocar o Brasil na condição de detentor, entre os emergentes, da maior dívida bruta em relação ao Produto Interno, ocupando o lugar onde hoje se encontra o Egito e não considerando a situação da Venezuela.
Para o Brasil, hoje, pagar os juros e o serviço da dívida é, de longe, a maior de suas despesas, embora pouco se fale a respeito. Há cinco anos, o País tinha a nona maior dívida, num grupo de 40 países monitorados pelo FMI, com um montante equivalente a aproximadamente 60% do PIB, percentual que deverá chegar a 88,4% no exercício corrente e ultrapassar a barreira dos 90% em 2019. Em mais cinco anos, se nada for feito nesse período, chegará fatalmente aos 100%. A pior situação entre os 40 países emergentes e também bem mais que a média para os países da América Latina. O Banco Central brasileiro usa outra metodologia para fazer estas contas e chega a resultados diferentes, com uma diferença estimada em 10% para menos.
Na prática, nada que faça diferença relevante ou que altere a conclusão de que o assunto reclama mais atenção, porque também aqui é repetida aquela situação em que, por mais que seja paga, a conta não para de crescer. É preciso antes de mais nada apurar como e porque o País chegou a este ponto e em que medida essa rota poderia ser corrigida. Dos dois lados da mesa, por razões que são essencialmente práticas, fica a certeza em que não está longe o ponto em que não haverá como pagar, além da constatação de que podemos ser os piores, mas certamente não somos os únicos.
Sabemos que cometemos erros e sabemos também que não foram poucos, mas estes gestos de aparente humildade não esgotam o assunto. As dificuldades enfrentadas têm a ver com o sistema econômico global e suas injunções que ficaram bem evidentes na crise financeira de 2008/09, cujos efeitos não foram apagados e, conforme avaliação do próprio Fundo Monetário Internacional, ajudam na compreensão das dificuldades que permanecem.
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Estamos falando de instinto de sobrevivência, de discutir caminhos alternativos e finalmente reconhecer que o sistema econômico global deve estar fundamentado na produção e no comércio e não na especulação financeira, que concentra a renda e explica o desequilíbrio que está piorando e, tal como no Brasil, não poderá ser mantido por muito tempo mais.
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