EDITORIAL | Do limão, a limonada
Os efeitos colaterais da pandemia são ainda incertos, da mesma forma que a sua própria evolução, embora seja tido como certo que as mudanças serão grandes e inevitáveis, alcançando todos os planos da vida em sociedade. Também é certo, já antecipam alguns estudiosos, que apesar das dificuldades e restrições, que será oportunidade para repensar e renovar, rompendo com antigos conceitos, nos planos individual e coletivo, em nome de uma vida mais sensata e equilibrada em que o saber e as riquezas acumuladas sejam mais bem aproveitados para o bem coletivo. Pode ser uma utopia ou ilusão, mas será igualmente uma construção possível.
A pandemia está próxima de completar um ano e na realidade muitas mudanças já aconteceram. Por exemplo, o trabalho remoto, tornado possível pelas facilidades de comunicação, e que muitos entendem ser um passo à frente e sem volta. Para as empresas houve, majoritariamente, redução de custos e ganhos de eficiência que não se imaginava possível, enquanto seus colaboradores ganharam o conforto de evitar deslocamentos não raro longos, o que significa mais disponibilidade de tempo e possibilidades de um convívio familiar mais intenso. Registre-se também a redução de deslocamentos, com impactos igualmente positivos.
Mudanças relevantes aconteceram também no comércio, com crescimento exponencial das compras a distância, via internet. As empresas estabelecidas cresceram além do que esperavam e muitas outras, aquelas que operavam de forma convencional, encontraram no e-commerce a salvação, além de uma nova janela de oportunidades. Tudo isso ao que parece veio para melhor e veio para ficar. E são mudanças que necessariamente impactarão a própria ocupação do espaço urbano, uma chance para que seja repensado de forma mais racional. A desocupação de imóveis comerciais, assim como a descompressão das áreas que ocupavam, pode fazer uma enorme diferença e num futuro não muito distante.
Lojas e escritórios fechados em áreas centrais nas grandes cidades, num modelo de ocupação que é predominante no mundo inteiro, poderão ter outras destinações, mais proximamente conectadas com o bem estar individual, com a qualidade de vida e até com a redução da poluição ambiental. Vistos nessa perspectiva, os acontecimentos recentes, que assustam e dão medo, podem ser também a oportunidade de corrigir desvios, centrando conhecimentos, inteligência e recursos no indivíduo como tal e não mais na sua capacidade de produzir.
Estamos todos sofrendo neste momento, mas talvez ainda sem perceber podemos também estar caminhando numa direção melhor.
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