EDITORIAL | E nada será como antes

Apostas, sejam quais forem, no momento serão pelo menos temerárias, posto que as incógnitas continuam sendo maiores. Mesmo assim cabe espaço para otimismo, para quem acredite que, passada a pandemia, apesar do tamanho do tombo a recuperação da economia poderá ser mais rápida do que se imagina.
E com ganhos de qualidade, uma vez que a indústria poderá ser favorecida. Nesse sentido, o susto com as proporções da dependência da economia brasileira, obrigada a importar da China até mesmo máscaras de proteção fácil, parece que poderá fazer bem.
Algo que nos atinge, mas é preocupação da maioria dos países, os ricos inclusive, que correram atrás das facilidades chinesas, seus custos atraentes, abandonaram a produção local, e na primeira crise de grandes proporções se deram conta da própria fragilidade.
De volta ao Brasil, que tem exatamente na China seu maior parceiro comercial, forte comprador de commodities minerais e agrícolas, da noite para o dia ficou mais barato comprar eletrodomésticos naquele país, aplicar marca e rótulos locais e, o mais discretamente possível, colocar em algum cantinho o indispensável made in china, o que se aplica também a calçados, roupas e o que mais for possível imaginar.
Nada demais, apesar das antigas queixas sobre a desindustrialização da economia local, para quem sabe que os Iphones, espécies de ícones modernos da indústria norte-americana e sonho de consumo no mundo inteiro, são fabricados exatamente na China.
Tudo ia muito bem até que o mundo descobriu ao mesmo tempo que precisava de respiradores para tratar os casos mais graves da pandemia e que a produção desses equipamentos que para muitos representam a diferença entre viver ou morrer, estava concentrada também no pais asiático, que também enfrentava o vírus e não tinha como atender a todos. Da noite para o dia fábricas de automóveis, fechadas pela quarentena, viraram reparadores ou fabricantes desses equipamentos.
Fala-se muito que o mundo não será o mesmo quando passar a pandemia e esse é um dos aspectos de discussões que vem ganhando força em muitas indústrias brasileiras, que já trabalham, ou se preparam, para reduzir a dependência, deixando de lado a falsa segurança de comprar – ou fabricar – onde for mais barato.
Objetivamente, o que significa levar em conta um outro problema, a volatilidade cambial, indústrias e entidades que as representam estudam que produtos são essenciais para o país, para os quais faz sentido criar uma política de nacionalização, a partir também de estímulos à ciência e à pesquisa. São tendências que, se confirmadas, nos mostrarão, sob este aspecto, que de fato existem males que vêm para o bem.
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