EDITORIAL | É o tempo da história

Vem do Rio de Janeiro, e mais uma vez, notícias que reforçam a descrença de que o País possa, no curto prazo, fechar as torneiras da corrupção no serviço público, sonho inocentemente acalentado por milhões de brasileiros e potencializado pelos compromissos de campanha do hoje presidente da República.
Caminha-se em marcha a ré, somos forçados a concluir diante da notícia de que os responsáveis pelo chamado propinoduto, primeiro dos escândalos que ganhou proporções nacionais e reações que, além das sempre mencionadas “punições exemplares”, prometiam mudanças. Os envolvidos estão sim, muito próximos da liberdade definitiva, com a prescrição dos processos abertos contra eles.
Em escala industrial, na gestão do governador Anthony Garotinho, fiscais da Fazenda estadual, de costas largas evidentemente, acessavam listas de contribuintes inadimplentes e os achacavam, cobrando propinas para apagar ou reduzir débitos. Amealharam, estima-se, mais de R$ 180 milhões, valores em parte remetidos à Suíça onde estão depositados e que, mais absurdo ainda, poderá ser-lhes devolvido uma vez que na prática as acusações contra eles estão sendo apagadas.
Tudo isso veio à tona, coincidência ou não, justo quando a chamada Operação Lava Jato é desmobilizada, num conluio bem orquestrado por aqueles que ainda poderiam cair nas suas redes, vale dizer, boa parte da classe política, aí incluídos alguns dos frequentadores dos salões mais nobres da República.
O esperado, nada mais que o esperado. A Lava Jato, que ganhou tantos holofotes e aplausos, foi, como já dissemos, algo da mais pura conveniência, uma espécie de atalho para o poder – ainda que tudo não tenha saído exatamente como o pretendido – em que corrupção era o mote, embora de fato houvesse muito mais ambição que virtudes, o que hoje parece suficientemente demonstrado, inclusive com relação ao caráter explicitamente seletivo das investidas, além de alguns erros tão prosaicos que, ao fim e ao cabo, alguns dos mais importantes processos podem acabar anulados. Ou a velhíssima história de mudar para deixar tudo como está sendo confirmada.
Tristes e desanimadoras conclusões também nos fazem lembrar que, desde a redemocratização, em 1982, fala-se em reforma política, esta sim, para pôr fim aos desvios que, tristemente, é preciso reconhecer, a decantada “abertura”, que incrivelmente acabou nas mãos dos mesmos personagens, ajudou a potencializar. E que não tenhamos ilusões. O tempo da história definitivamente não é o tempo das aflições e esperanças da maioria dos brasileiros, que talvez não tenham vida para ver seus sonhos realizados.
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