EDITORIAL | Em nome da razão

Nesta quinta-feira, se cumprido o calendário, a Câmara dos Deputados deve deliberar sobre a polêmica questão do voto impresso e auditado. Antecipa-se, nos meios políticos, que a mudança, arduamente defendida pelo presidente da República, que chegou ao absurdo de afirmar mais de uma vez que sem o voto impresso e auditável não haverá eleições no próximo ano, será aprovada.
Uma questão de respeito ao que está posto constitucionalmente e de elementar reconhecimento – ao contrário do que diz o presidente da República – de que em mais de 25 anos de utilização não houve, com relação às urnas eletrônicas, qualquer indicativo da possibilidade de irregularidades ou fraude. Na realidade, trata-se justamente do contrário, com o sistema manual ou, mesmo, recontagem, este sim dando margem a desvios que em determinados momentos da vida nacional foram rotineiros, quase corriqueiros.
Mesmo tendo passado pelo constrangimento de prometer exibir provas documentadas de sua desconfiança e para isso ter convocado a imprensa, o presidente, numa apresentação tão desconexa que chegou a falar até de acupuntura em árvores, acabou admitindo ter apenas suspeitas. Bem ao seu estilo, nada que parecesse produzir constrangimento ou impedisse que já no fim de semana voltasse ao tema e às ameaças e acusações já próximas de provocar desastrosa desestabilização. E na memória ficam os arroubos do ex-presidente Donald Trump, ídolo e modelo para o atual ocupante do Palácio do Planalto, numa aventura cujo epílogo é bem conhecido.
Por elementar, é preciso dar um fim a tais desatinos, ou antes a agressões ao sistema político que a Constituição consagra e ordena, sem a leniência que também já passou dos limites, apesar da farta demonstração de que o sistema de votação brasileiro provou-se confiável e seguro, na realidade um dos melhores do mundo e modelo para mais de vinte países e não para os três, talvez imaginando ser pejorativo, que o presidente da República apontou em sua canhestra fala da semana passada.
Certamente não é por mera coincidência que a intensidade de suas investidas, talvez já para além do limite da legalidade, cresce proporcionalmente às evidências de que a possibilidade de uma derrota no próximo ano parece aumentar a cada novo dia ou a cada novo arroubo do chefe do Governo, que a um só tempo tenta impor suas regras e seus interesses.
Talvez lhe falte a elementar compreensão de que no Brasil de hoje não existe espaço para o casuísmo que tanto contribuiu para sustentar o regime que foi a negação explícita da democracia e da liberdade.
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