EDITORIAL | Em outro patamar

Definitivamente os deuses da terra conspiram a favor do agronegócio em Minas Gerais, confirmam dados apurados no ano passado. As previsões eram de resultados fracos, podendo mesmo chegar a números negativos, mas não foi o que aconteceu. Em 2021 o PIB do setor no Estado cresceu 18%, variação que nem na China pode ser encontrada, e já corresponde a 20% do total da renda estadual, mesmo com o volume de produção tendo apresentado decréscimo de 8,4%. O ganho ficou por conta da valorização dos preços no mercado internacional, aquecimento da demanda e variações cambiais.
O total das exportações somou US$ 33,2 bilhões, com ganho de US$ 5,4 bilhões na comparação com o ano anterior e destaque para o café, que respondeu por 66,3% do total arrecadado. Embora ainda não se possa fazer comparações com os resultados nacionais, são números impressionantes e que colocam a atividade em Minas em primeiro plano, perdendo apenas para o minério de ferro. Por evidente, a riqueza que está sendo gerada tem sido o principal lastro das contas nacionais que de outra forma estariam há anos em posição insustentável.
Comemorar o realizado, como é devido, não impede que se tente enxergar o que poderia ser feito. Minas Gerais, o Brasil no conjunto, figura presentemente entre os maiores produtores mundiais de alimentos, em alguns casos ocupando a primeira posição. Agora estamos levando em conta os volumes produzidos e entregues, não a receita gerada e, olhando para a frente, antes de pensar em conquistar a liderança em produção, este deveria ser o centro das atenções, a meta a ser perseguida. Algo que já foi dito inúmeras vezes, mas nunca será demais repetir.
Como é sabido, somos grandes exportadores de commodities agrícolas que rendem muito ao País, mas que poderiam render muito mais se passássemos a ofertar produtos processados, mantendo em território nacional a agregação de valor que hoje acontece no exterior. De modo mais fácil de entender, preparamos a terra, plantamos, colhemos e entregamos, fazemos o principal, mas os ganhos maiores são também de alguma forma exportados. Como os grãos de café que vão se transformar em cápsulas na Alemanha ou Suíça, multiplicando seu valor várias vezes.
Passou da hora de encarar o desafio de mudar essa realidade. O capital que o agronegócio brasileiro está acumulando, nada pequeno, não pode continuar sendo simplesmente acumulado ou destinado ao aumento do plantio. Falta enxergar que o maior dos segredos é a industrialização, o passo que pode levar o Brasil a um outro patamar.
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