EDITORIAL | Em planos diferentes

Depois do feriado prolongado, a semana começou, para os brasileiros, com notícias, no campo da economia, pouco animadoras, traduzidas em novas reduções nas expectativas. Dados divulgados na segunda-feira dão conta de que temos pela frente menos crescimento e mais inflação, admitindo-se pela primeira vez no mundo oficial que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) poderá ficar abaixo de 1% enquanto a inflação deve beirar os 10%, ou três vezes mais que o teto fixado pelo Banco Central.
Distante do mundo real ou, pelo menos, do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro aproveitou sua viagem aos Emirados Árabes para apresentar um país que em nada combina com os prognósticos reproduzidos no parágrafo anterior. Para ele vamos muito bem, tendo pela frente um futuro que, na sua opinião, é o melhor convite que se pode fazer a investidores, como seus anfitriões, desejosos de encontrar boas oportunidades e lucros atraentes. A eles nada disse sobre as dificuldades, por exemplo, para encontrar nas contas públicas espaços para gastos que não cabem no teto de despesas, ainda que tão relevantes quanto auxílio, mesmo que pouco mais que simbólico, aos que se encontram abaixo da linha da pobreza.
Também não falou sobre a perspectiva de calote a credores que estão na fila dos precatórios, mas, em conversas reservadas, teria adiantado que se sua proposta for aprovada pelo Congresso haverá “folga” até para reajuste dos salários dos servidores públicos. Distante de casa e do ambiente de Brasília, deve ter se esquecido que os salários em questão estão congelados, como parte da receita que ajudou a sustentar os gastos extras provocados pela pandemia, mas certamente não perdeu de vista o significado deste aceno faltando onze meses para as eleições.
O país que o presidente da República apresentou ao mundo árabe em meio às riquezas e extravagâncias de Dubai certamente não é o mesmo que se encontra do lado de cá do Oceano Atlântico, a alguns milhares de quilômetros de distância. E disso os piores sinais não são exatamente aqueles contidos nos prognósticos agora divulgados. Muito pior é o alheamento em relação a eles, a falta de projetos, de respostas que nos ajudem a enxergar um caminho com tempo bom à frente. Só existem tempo, energia e espaço para a política no seu pior sentido, como explicitado na oferta de reajuste salarial ao funcionalismo e tantas outras manobras que confirmam e reforçam o julgamento.
Eis porque nesta semana, com as principais autoridades em viagem ao exterior, cresceu a sensação de que o Brasil está à deriva.
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