Opinião

EDITORIAL | Emergência a enfrentar

EDITORIAL | Emergência a enfrentar
CRÉDITO: DIVULGAÇÃO

A questão do desabastecimento de medicamentos no País começa a assumir proporções inquietantes e a escassez observada nos últimos dois meses deve se agravar, admite a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na rede varejista, conforme tem sido noticiado, faltam medicamentos essenciais, como antibióticos, dipirona e xaropes para tosse, o que se repete no Serviço Único de Saúde (SUS). O mesmo acontece na rede hospitalar, comprometendo procedimentos, fato registrado em pesquisa da Confederação Nacional de Saúde em hospitais, clínicas e serviços de home care. Conforme o levantamento, a falta de soro atinge 87% das instituições pesquisadas, enquanto 72% acusam falta de dipirona injetável. Com as atenções voltadas para o básico do básico é possível imaginar o que se passa com relação a medicamentos de alta complexidade.

As dificuldades apontadas são associadas ao aumento da demanda global, dificuldades geradas pela pandemia e, também, a restrições decorrentes na guerra no Leste europeu, além do câmbio desfavorável. E tudo isso num contexto em que 95% dos insumos farmacêuticos consumidos no Brasil são na atualidade importados da China e da Índia, mais um caso em que o País expõe sua dependência e fragilidade.

Sem que demonstre ter se dado conta da gravidade do problema, o Ministério da Saúde se limitou a liberar reajustes de preços, gerando aumento de custos que impactam quaisquer tratamentos, além de reduzir impostos de importação em alguns casos específicos. Faltou planejamento, faltou observar mais atentamente a curva da demanda e faltou, sobretudo, o entendimento da necessidade estratégica de ser estimulada a produção interna. Também nesse caso é de se esperar que, pela simples observação, as autoridades se deem conta de que é fundamental, numa visão de futuro, estimular a indústria no Brasil.

Na realidade, até aqui percorremos o caminho inverso, na fantasia de que as compras deveriam ser feitas onde fossem melhores os preços, um dos mantras da globalização e que explica a regressão havida no setor farmacêutico, num fenômeno que não é nada diferente do que ocorreu e ocorre em outros setores industriais, como o de autopeças e mais recentemente a eletrônica. Fato é que, de pronto, temos mais uma emergência a ser enfrentada, diante da qual é legítimo esperar menos letargia das autoridades federais. Além do entendimento de que o processo de desindustrialização que pode ser observado pelo menos desde a virada do século, nos impõe uma regressão que na área de saúde atinge o limite que não pode ser ultrapassado.  

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