EDITORIAL | Entendimento que nos falta

A campanha eleitoral, que a rigor começou no mesmo dia da posse do atual presidente, termina como começou, sem espaços para o debate que alimentaria a estruturação de projetos permanentes, com muita polêmica e desvios que não poderiam ter passado em branco. Pior, com a sociedade brasileira pressionada, desde a queda da então presidente Dilma Rousseff, pela explicitação de interesses nada republicanos, tudo isso gerando um contencioso que muito provavelmente as próximas gerações não terão como liquidar. A este pano de fundo, ou por conta dele, os brasileiros foram induzidos a uma radicalização que, sugerem as pesquisas de intenção de votos, rompeu o diálogo, deixando no seu lugar divisão de dois blocos antagônicos.
Tudo isso, e evidentemente resumindo, coloca o Brasil, na véspera em que seu futuro mais próximo será decidido, diante de um quadro em branco, ou totalmente negro, em que persiste como única certeza dificuldades que se avolumam, sem sinais de nenhuma articulação plausível para que sejam enfrentadas e superadas. Caberia refletir, quando menos como um exercício que poderá se útil no futuro, como e porque fomos levados a esta encruzilhada, consumindo tempo e recursos, consumindo valores, para além do material, que igualmente nos fazem muita falta. Ambições vazias e absolutamente egoístas nos ajudam a entender por que chegamos a este ponto ou como uma campanha política inteira foi ocupada exclusivamente pela troca de desaforos, enquanto propostas e projetos eram trocadas pela repetição de promessas vazias e inconsistentes.
São conclusões tão tristes quanto preocupantes, principalmente quando a extensão das dificuldades é percebida assim como a despreocupação com tudo aquilo que é realmente necessário e desejado, a começar da restauração de valores e princípios que foram apagados, esquecidos. E que devem ser recuperados, passada a votação, independentemente do resultado apurado, num duríssimo esforço de convergência, não em direção a qualquer dos lados em confronto e sim do entendimento elementar de que não existe outra forma de construir soluções que correspondam às necessidades e tenham o senso da urgência que muitos ainda teimam em não perceber.
Nos sobra, de qualquer forma, a tarefa de compreender o presente pelo menos para que saibamos o que exigir – e exigir muito mais – daqueles que se ocupam da política, porém sem o entendimento claro de sua opção e escolhas, o que os impede de abraçar com generosidade deveres e compromissos.
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