EDITORIAL | Entre fuzis e celulares

Dia desses o governador do Rio de Janeiro definiu como calamitosa, fora de controle, a situação da segurança pública no Rio de Janeiro, com reflexos graves nos indicadores de violência. Sugerindo impotência diante da situação, prometeu denunciá-la à Organização das Nações Unidas (ONU), embora sem esclarecer o que exatamente esperaria do organismo. Na última terça-feira, a Polícia Civil do Estado saiu a campo para mais uma grande operação, com quatro dezenas de mandados de prisão, dos quais metade havia sido cumprida ainda na parte da manhã. Na mira, uma quadrilha de larga e variada atividade, do roubo de cargas e automóveis ao tráfico de drogas, tudo isso comandado por nove indivíduos, todos eles presos.
O que se passa no Rio de Janeiro guarda semelhança com acontecimentos recentes, e repetidos, no Ceará, onde presidiários, abrigados em facções do dito crime organizado, ordenaram uma série de ataques em Fortaleza e c idades do interior, numa intensidade nunca antes vista. Tecnicamente, talvez, uma situação de insurgência, capaz de justificar resposta à altura, em garantia aos direitos básicos da população. Como foi dito acima, mais uma vez os ataques foram ordenados e comandados a partir de prisões locais, em reação às condições desses locais e, sobretudo, à transferência de alguns apenados. E tudo isso possível, tanto no Ceará quanto no Rio de Janeiro e demais estados brasileiros, graças às facilidades de comunicação propiciadas pelo uso de telefones celulares.
Para resumir, nada de novo, embora esta continue sendo uma situação que escapa à compreensão, principalmente porque perdura por anos a fio e, no caso do Rio tendo resistido até mesmo à intervenção federal na área de segurança, sem produzir resultados palpáveis. O telefone celular claramente é o vilão, ou pelo menos um deles, fato que é amplamente conhecido e assim reconhecido, embora por incrível que possa parecer nada de efetivo seja feito para impedir que o mundo do crime continue operando com tanto desembaraço e articulação, deixando claro que ocupam espaços que o Estado deixou vazios.
Não se pode imaginar que as Nações Unidas, como pensa o governador do Rio de Janeiro, tenha algo a oferecer de mais concreto. Mas é certo, certíssimo, que existem bloqueadores de sinal de telefonia celular que estão disponíveis e são inclusive utilizados em outras esferas do serviço público. Difícil entender o que se passa, difícil compreender a aparente inoperância se não como algo que pode estar próximo da conivência. Talvez falte entender que é preciso preocupar menos com fuzis e mais com os celulares que os comandam.
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