EDITORIAL | Enxergando mais longe

Para acertar suas contas e restabelecer o equilíbrio fiscal, garantindo ainda a retomada de investimentos considerados críticos, a administração federal se empenha em verdadeira maratona. Uma equação das mais difíceis em que é preciso ampliar receitas e ao mesmo tempo resistir à tentação de elevar a carga tributária, o que significa recorrer a novas fontes de arrecadação. Nessa linha, o secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda acaba de apresentar nova alternativa, que diz estar sendo avaliada, com possível recriação da chamada “Raspadinha”, loteria instantânea, que, segundo suas estimativas, poderia render algo como R$ 3 bilhões ao ano.
Tomando esse rumo, o governo, que já opera através da Caixa Econômica Federal um conjunto de loterias que corresponde ao virtual monopólio do setor, poderia fazer mais e enxergar longe. Apesar da jogatina oficializada ou informal, o País, em mais uma de suas contradições, continua sendo uma terra em que os jogos de azar são proibidos e os cassinos foram banidos há quase cem anos. Uma possível reabertura, considerados os benefícios consequentes, é assunto que nunca saiu de pauta, embora continue esbarrando em resistências que o ex-presidente Jânio Quadros bem poderia definir como “forças ocultas”, enquanto o Executivo se faz de morto.
Quem quer jogar continua jogando ou, pior, viaja ao exterior para frequentar cassinos que não sejam clandestinos, mas as aparências continuam aparentemente salvas. Quem perde, está bem demonstrado, é principalmente a indústria do turismo, representada por hotéis, restaurantes e setor de entretenimento, além de outros, somando empregos que se contariam certamente às dezenas de milhares. Tudo isso e mais a arrecadação de tributos que, nesse contexto, faria das estimativas de ganhos com a “Raspadinha” algo mais parecido com trocados. Chama atenção que legisladores e autoridades ditas competentes continuem teimando em ignorar algo tão óbvio, tão fácil de ser entendido, exceto apenas para os que ganham com a manutenção da clandestinidade.
Fato é que, com o assunto tendo voltado à cogitação, ainda que por enquanto apenas indiretamente, fica mais uma vez claro que continua não fazendo o menor sentido desprezar o potencial que a reabertura dos cassinos poderia representar para a economia do País, gerando investimentos, empregos e renda, além de arrecadação. Enxergar o óbvio, conforme indiretamente sugere o secretário de Reformas Econômicas, que certamente ouviu seus superiores, deixa assim de ser especulação e passa à condição de algo impositivo.
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