Opinião

EDITORIAL | Enxergar o óbvio

EDITORIAL | Enxergar o óbvio
Crédito: Amanda Perobelli / Reuters

O ano termina com o fantasma da inflação voltando a rondar e, tanto pior, numa escalada indicativa de que o Plano Real pode estar com os dias contados. Em termos práticos, e para quem ainda se lembra como foram os anos da chamada inflação galopante, um golpe que pode ser o mais duro dentre tantos recebidos pela economia brasileira nos últimos anos. Definitivamente, dólar cotado além dos R$ 5,00 e inflação voltando aos dois dígitos, sem contar a pandemia rondando, não deixa espaços para muitas comemorações nesta passagem de ano. Até mesmo para os que ainda tentam enxergar no que se passa apenas o reflexo de uma crise internacional, mais profunda e mais ampla.

É o jogo esperado daqueles que precisam e tentam encontrar culpados, deixando de enxergar seus próprios pecados. O caso mais evidente, olhando nessa direção, é a política de preços para os derivados do petróleo, modificada no governo interino do ex-presidente Michel Temer, que determina paridade com as cotações internacionais, abraçada com indisfarçável entusiasmo pelo atual governo. Tudo isso sem considerar que somos um país que se move com gasolina e óleo diesel, cujos preços, portanto, impactam toda a economia. Só falta entender como, dispondo de grandes reservas e sendo autossuficientes na produção de óleo, fomos cair nessa armadilha, que nos debilita, cutuca e acorda o dragão da inflação, enquanto é festejada lá fora.

São fatos que não podem ser contestados ou ignorados. Conforme publicamos em edição anterior, dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) demonstram que desde o dia 1º de janeiro passado o preço da gasolina acumula aumento de 47,7% na média de Minas Gerais, a alta do etanol chegou a 64,8% no mesmo critério, enquanto o diesel, crucial para a movimentação de cargas, chegou aos 42,2%. Não são muito diferentes os percentuais relativos aos demais estados. Conhecer estes dados e prosseguir buscando outras explicações para a escalada da inflação é o mesmo que teimosia além da conta.

Sem ser capaz ou ter interesse em enxergar o óbvio, cristalinamente tipificado na elevação do consumo da lenha que substituiu o GLP entre os mais pobres, a administração federal, empenhada em angariar simpatias que se traduzam em votos, criou o tal vale-gás e outras formas de “ajuda” aos mais pobres, gastando além dos limites apenas para produzir ilusões. Eis o tamanho da encrenca reservada a quem subir a rampa do Palácio do Planalto em janeiro de 2023.

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