EDITORIAL | Erros por reparar

Os comentários em Brasília, como de costume, são maldosos e dão conta de que o economista Paulo Guedes deixou de ser o superministro do governo e já não seria visto, no Palácio do Planalto, como o “Posto Ipiranga”, dono de todas as respostas que o presidente da República poderia desejar.
Comentários maldosos, repetimos, também quando contam que o titular da Economia não é defenestrado exclusivamente por falta de opções e que não sai por conta própria por ainda alimentar a esperança – ou a vaidade – de ajudar a devolver horizontes ao País. Tudo isso e muita fofoca também, tão próprias da corte.
Nesse ambiente, não deixa de chamar atenção a resiliência do ministro que, contrariando determinação muito específica de seu chefe, continua falando de CPMF, ou de qualquer coisa que guarde semelhança com a amaldiçoada contribuição provisória, extinta mas sem que se saiba ao certo o destino de tudo que foi arrecadado.
Na semana passada, Paulo Guedes voltou ao assunto e o fez de maneira curiosa, para afirmar que os bancos na prática já cobram de seus clientes muito mais que a própria CPMF, numa referência às taxas recolhidas, dando como exemplo as transferências, ou TEDs, pelas quais é pago dez vezes mais do que o valor que se pretende cobrar. E acrescentou, candidatando-se explicitamente a processos sem fim, afirmando que a Federação Brasileira dos Bancos, a Febraban, “paga a todos os economistas brasileiros para dar consultoria contra esse imposto”.
Com certeza muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte, mas é certo que Paulo Guedes deve explicações a quem o escutou. Ele está coberto de razão quando diz que os bancos brasileiros cobram taxas absurdas e poderia ter lembrado também que não por acaso que seus ganhos estão entre os mais elevados de todo o mundo. Mas parece ter se esquecido de sua cadeira e de sua caneta, supõe-se que com poder e tinta suficientes para, pelo menos, conter parte dos abusos que ele próprio afirmou que os bancos praticam.
Difícil de explicar e mais difícil de entender, não estivéssemos todos em um país onde um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) dá ordem de soltura para aquele que seria um dos comandantes do tráfico internacional de drogas e que, libertado prontamente, provavelmente já cruzou as fronteiras brasileiras, embora a ordem de soltura tenha sido revogada tardiamente pelo presidente da Corte, decisão mais tarde confirmada pela maioria de seus integrantes.
Agora resta à polícia tentar cumprir a tarefa, dada como impossível, de recapturar o traficante, enquanto do ministro da Economia se espera que atue para reparar os erros que apontou no sistema bancário.
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