EDITORIAL | Erros que se repetem

A mentira parece ter se transformado num ingrediente banal para a atividade política no Brasil, e não estamos falando dos casos em que fugir à verdade possa corresponder a tentativas de encobrir aquilo que, mais uma vez para confundir, nas conversas mais polidas são chamados de atos não republicanos.
Falamos do cotidiano, do banal, como nos casos de candidatos que trabalham em tempo integral por suas candidaturas enquanto sustentam que não são candidatos, que não desejam antecipar o processo eleitoral, ou que estão ainda ouvindo a suas bases. Como diria algum matuto, nada mais que conversa para boi dormir.
Evidentemente que tamanho desapego à verdade necessariamente implica em distorções ainda maiores, que vão se refletir, e se refletem da forma mais lamentável, na gestão pública. O descompromisso é o mesmo, escancarando a falta de projetos e desnudando ambições que ganharam proporções inaceitáveis a partir da introdução da legislação que permite reeleição para cargos do Executivo.
Como em outros casos em nosso País, o que seria uma boa ideia, destinada a premiar os bons gestores e dar-lhes tempo para o trabalho, produziu efeito contrário. Assim, o candidato que decide concorrer a um primeiro mandato invariavelmente cumpre o ritual – mentiroso – de afirmar que não aspira à reeleição, mas na realidade já começa trabalhando, articulando e fazendo concessões para ficar bem na hora de pretender um novo mandato.
Difícil, quase impossível, sobrar espaço nesse ambiente para algo que não seja a política rasteira, que por sua vez condiciona a gestão, produzindo o resultado mulatíssimo bem conhecido. Em que outro plano, afinal, colocar recentes declarações do ex-presidente Lula, candidatíssimo para as eleições do próximo ano, afirmar, durante recente viagem à Europa, que não é candidato, que ainda não se decidiu. Apontamos para o mais bem colocado nas pesquisas prévias, mas poderíamos estar falando de quaisquer outros dos concorrentes ou das alianças, que para leigos pareceriam impossíveis ou insensatas, que vão se desenhando.
Em qualquer situação este seria um quadro rigorosamente deplorável e que se torna ainda mais grave diante das dificuldades e problemas que cairão no colo de quem se sentar na cadeira presidencial em janeiro de 2023. Independentemente de quem seja o escolhido, não será injusto antecipar que teremos mais do mesmo, eventualmente com sinais trocados. Quanto ao Brasil, restará continuar esperando por um futuro que teima em não chegar.
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