EDITORIAL | Erros que se repetem

Quem estudou e conhece o assunto costuma dizer que saneamento básico é o melhor dos investimentos que se pode fazer em saúde pública. Algo como cada real investido na universalização do acesso à água tratada e redes de esgotamento sanitário corresponderia a economia de até R$ 10 em gastos com saúde pública. De fato, a ausência de um e de outro entre as camadas mais pobres da população expõe este grupamento a uma série de doenças, e, para a população infantil, a principal causa, direta e indireta, de mortalidade.
Não é nenhum segredo o que foi dito no parágrafo anterior, o que não implica em esforços correspondentes para que a realidade seja modificada. Afinal “canos enterrados não rendem votos” é frase que costuma ser repetida, sem nenhum sinal de pudor, faz tempo, explicando a diferença entre o que é necessário e o ofertado. No caso da água tratada, cuja oferta adequada representaria um salto, em termos de qualidade de vida, para milhões de brasileiros, o descompromisso dos que carregam – e por escolha própria – a responsabilidade de assegurar a todos disponibilidade de algo tão essencial revela aspectos ainda mais absurdos.
Embora o regime de chuvas no último verão tenha sido favorável, recompondo praticamente a totalidade dos reservatórios, afastando o perigo imediato de racionamento conforme era previsto há menos de um ano, persistem as disparidades de acesso, em condições adequadas, a algo que é condição para a própria vida, animal ou vegetal. Pior, conforme revelam os estudos mencionados no início desse comentário, pelo menos 40% da água tratada no Brasil não alcança seu destino, perdida em vazamentos de redes muito antigas e sem adequada manutenção ou desviada ilicitamente. Enquanto isso, brasileiros, milhões deles, bebem água suja e sem tratamento.
Mais uma vez estamos diante da constatação de que, no País, pior que a falta de recursos é o mal uso de tudo aquilo com que se pode contar. Embora agentes públicos assegurem que multiplicam esforços para melhorar as condições nessas duas frentes, aliás objeto até de um programa especial solenemente apresentado no ano passado. Não parece ser o suficiente, ou o melhor, uma vez que nada é dito sobre a correção de erros bem conhecidos e como tal admitidos, embora só voltem à tona nos períodos de seca. Como em tantos outros casos, passada a crise, vem o esquecimento, não importa até que ponto vidas são ameaçadas, ou perdidas, e sem que também os serviços de saúde pública tenham condições de responder ao desafio colocado.
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