Editorial | Erros sem explicação

Um dia, faz tempo, antes da descoberta dos gigantescos campos petrolíferos do pré-sal, com a viabilização de motores à explosão capazes de queimar etanol produzido a partir da cana-de-açúcar. Foi um daqueles momentos de euforia, com o País imaginando livrar-se da dependência de combustíveis fósseis, com uma opção inovadora e, sobretudo, renovável. Para não recuar no tempo, lembrando a sucessão de decisões erradas que reduziram ou neutralizaram a nova fonte, que chegou a ser apontada como capaz de catapultar o País rapidamente ao Primeiro Mundo, ficaremos no exemplo mais recente.
Como é sabido, no governo passado foi tomada a decisão de vincular os preços dos derivados do petróleo aos do mercado externo. Com toda certeza faltou lógica na lógica dos burocratas, que tiveram a ideia e conseguiram convencer aqueles que tinham o poder de tomar decisões. Entre gasolina e etanol, a única semelhança, é possível afirmar, é que ambos têm o destino pouco nobre de alimentar motores pouco eficientes e altamente poluidores. Fato mas não obstáculo para que a tal paridade de preços dos derivados do petróleo se transformasse em ocasião para inflar os preços do etanol, que no último ano subiram mais que os derivados do petróleo. Mais uma oportunidade foi perdida, os usineiros não têm do que reclamar, mas certamente não consideraram o que poderia ter acontecido, com a demanda aquecida e a produção acompanhando.
Olhando para um lado ou para o outro, definitivamente não dá para compreender decisões e políticas que estão impondo grandes e desnecessários sacrifícios ao País, começando por devolver a inflação a patamares que não ocorriam desde o lançamento do Plano Real. Perdemos nas duas frentes, a instabilidade, ao longo do tempo, inibiu investimentos no desenvolvimento tecnológico dos motores flex, dando sentido prático às óbvias vantagens do etanol, além de fazê-lo competitivo. Os bastidores dessas manobras, se conhecidos, lançariam luzes que são muito relevantes para permanecerem numa espécie de limbo.
E assim continua, enquanto os responsáveis pela definição de políticas e estratégias, que são absolutamente cruciais para o País, dedicam seu tempo, depois de fazerem da equiparação de preços fato consumado, a discutirem se combustíveis, etanol em particular, podem ou não ser vendidos diretamente ao consumidor final, sem a intermediação que ocorre atualmente e muito contribui para onerar a cadeia.
Pior, enquanto isso nenhum deles se dá conta de que o País está andando em marcha a ré.
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