EDITORIAL | Espaço para racionalidade
O presidente Trump, dos Estados Unidos, que já se deu por vencido nas recentes eleições em seu país, mas continua insistindo, sem que apresente qualquer evidência, que houve fraude na votação, parece pretender deixar bem marcada a reta final de seu controvertido governo. Para isso, e bem ao estilo local, nada melhor que arrumar um alvo externo, desviando atenções, mas provocando riscos que podem fugir ao controle.
É a China que continua na mira, com novas restrições ao comércio e investimentos bilaterais, num jogo de provocações que tenta se esconder em alegadas preocupações com o regime político local. Um teatro bastante óbvio, que reproduz enredo repetitivo e difícil de responder aos que indagam por que a Arábia Saudita, de tradições nada saudáveis em termos de liberdade política e respeito aos direitos humanos, contraditoriamente, recebe tratamento de aliado preferencial.
Os chineses não acusam os golpes, embora já tenham dito que são pacientes, mas também têm limites. Nas próximas semanas, que dizem estar enfurnado na Casa Branca, fará todo barulho que puder para confundir e tentar atrapalhar seu sucessor, de quem não se sabe ainda qual será exatamente sua política com relação à China, que, por sua vez, já disse esperar que exista respeito nas relações bilaterais, entendidas as respectivas diferenças, garantido o espaço da convergência possível nas relações comerciais e nos investimentos. Nas palavras de seu embaixador em Washington, existem diferenças entre os dois países, mas nenhuma que justifique confronto e guerra, enquanto o presidente Xi Jinping cumprimentou o presidente eleito Joe Biden afirmando que os dois países são capazes de administrar suas divergências sem confrontos.
Se o futuro presidente dos Estados Unidos compreendeu ou não o recado é algo que por enquanto permanece no terreno das incógnitas, embora seja dado como certo, até por falta de alternativas, que a China continuará sendo vista como a principal competidora estratégica dos Estados Unidos e, a respeito, Biden já disse que por enquanto não removerá as tarifas de 25% impostas por Trump, tendo como prioridade reconstruir suas alianças na Europa, fortalecendo-as para que as discussões com a China sejam conjuntas e coordenadas.
Tudo isso, é evidente, interessa, e muito, ao mundo inteiro, posto que envolve as duas superpotências da atualidade. E ao Brasil muito particularmente, que este ano construirá justamente na China 70% do saldo de sua balança comercial.T
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