Opinião

EDITORIAL | Espaços de acomodação

EDITORIAL | Espaços de acomodação
Crédito: REUTERS/Angus Mordant

No exato momento em que a pandemia, depois de dois anos, dá sinais mais robustos de trégua, abrindo espaços para a recuperação da economia global e, imaginava-se, num contexto mais favorável a mudanças voltadas para a busca do fortalecimento das nações periféricas e consequente redução das desigualdades, os alarmes voltam a tocar. Agora é o conflito no Leste europeu, revivido em forma de confronto aberto e fazendo ver que a Guerra Fria na realidade nunca cessou, tudo isso implicando em que a humanidade continua caminhando sob o fio da navalha.

De momento, as incertezas escapam aos limites de qualquer análise crível, seja no campo bélico, seja nas implicações econômicas, concebidas para fragilizar a Rússia e convidá-la ao entendimento, mas que poderão representar carga demasiadamente pesada para todo o planeta, com riscos claros de chegar a um desequilíbrio estrutural. E o Brasil, nesse sentido, está no centro dos acontecimentos, em primeiro lugar por conta da alta nos preços do petróleo, situação que, se mantida a política de alinhamento de preços, poderá gerar descontrole cujos primeiros efeitos serão sentidos na inflação.

Riscos também a serem ponderados dizem respeito às importações de insumos agrícolas, como fertilizantes e ureia, cuja oferta local não chega a cobrir mais que 20% das necessidades e que tem como principal fornecedor justamente a Rússia. Para completar, o abastecimento de grãos, trigo especialmente, fica sob risco, começando pela corrida de preços que já pode ser sentida.

São sinais muito ruins, especialmente considerando que a escalada da inflação já era motivo para preocupações, riscos que são evidentemente agora muito maiores. Como seria bastante temerário imaginar que o cenário internacional possa se modificar, para melhor, em prazo relativamente curto e sabendo onde estão os pontos mais sensíveis, é preciso trabalhar, e tão rapidamente quanto possível, na construção de alternativas pelo menos de alívio, de redução de danos. E como não lembrar, neste exercício, que o lucro líquido da Petrobras chegou no ano passado a R$ 106 bilhões, com um crescimento de 1.400% em apenas dois anos.

Considerados os indicadores reconhecidos internacionalmente e que medem estes resultados, o desempenho da Petrobras foi mais que o dobro do registrado pelas maiores petrolíferas do planeta. Nada difícil, portanto, constatar que existe margem para manobras, desde que a opção seja por aquilo que verdadeiramente interessa ao Brasil e aos brasileiros.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas