Opinião

EDITORIAL | Espera que não tem fim

EDITORIAL | Espera que não tem fim
Foto: Freepik

Aconteceu novamente. Na semana passada uma carreta transportando gás tombou no Anel Rodoviário, na fática descida que vai do bairro Olhos D’ Água a Betânia. Felizmente não houve vítimas a lamentar, mas o tombamento e a natureza da carga transportada, de alto risco de explosão, obrigaram a interrupção do tráfego no Anel, nos dois sentidos, por pouco mais de 15 horas. Um novo e triste recorde que, para completar, culminou com o tempo ruim e com maior volume de trânsito, próprio dessa época do ano. Resultado, e como uma reação em cadeia, Belo Horizonte viveu horas de caos.

Não é preciso recordar que o problema persiste e é bem conhecido há pelo menos 20 anos, ou até mais. Também antigas, bastante antigas, são as promessas, primeiro de duplicação do Anel e, adiante, de uma revitalização, com correção dos trechos críticos, que nunca aconteceu. Agora fala-se na construção de áreas de escape, uma alternativa interessante em termos de segurança, mas as obras, a cargo da Prefeitura de Belo Horizonte, que já deveriam ter começado, ainda não saíram do papel. Em  resumo, é preciso, urgente, acordar. Esperar, dar tempo ao tempo ou curvar-se a uma inesgotável burocracia é algo que não mais se pode aceitar.

O Anel, concebido apenas para desviar das regiões mais centrais o trânsito de caminhões que passam pela cidade em direção a outros destinos, perdeu há muito suas funções, transformado numa avenida onde são permanentes os riscos. Foi nesse contexto que surgiu a ideia do Rodoanel de Contorno Norte, que, como costuma acontecer e desde que promessas fossem cumpridas, a estas alturas poderia estar concluído. Resumidamente, faltaram recursos e disposição para levantá-los, mas uma tragédia, o rompimento de uma barragem em Brumadinho, se transforma em solução. Parte da indenização paga pela Vale será destinada ao Rodoanel.

Dinheiro deixou de ser problema, mas a burocracia não. As partes não se entendem, com diversos municípios da região metropolitana questionando o traçado proposto, o Estado ouve mas não decide e, para completar, ecologistas criam mais problemas, ajudando a atropelar o interesse coletivo em nome de uma visão às vezes estreita. Resultado, o projeto não anda, nada é decidido, numa procrastinação cujo preço tende a acabar sendo mais vidas perdidas. Nada disso faz sentido, nada disso responde adequadamente ao que se deve esperar da administração pública.

O que aconteceu na semana passada, com impactos sem precedentes para toda a Região Metropolitana, deveria ser o bastante para acordar os que tem o poder de decidir.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas