EDITORIAL | Estamos sob risco
Desenvolvida em tempo recorde, tarefa que só pôde ser cumprida graças à cooperação que combinou esforços de países, organizações científicas e laboratórios, a vacina na qual estão depositadas as esperanças de que a pandemia possa ser, afinal, detida começou a ser aplicada na semana passada em alguns países europeus.
Um enorme alívio que chega em meio a notícias preocupantes sobre um novo ciclo de contaminações, inclusive no Brasil, onde especialistas da área de saúde colocam como possibilidade concreta o colapso do sistema, provavelmente entre o Natal e Ano Novo.
Diante de ameaças dessas proporções, cuja medida mais trágica é a perspectiva de que, até o último dia do ano, as fatalidades no Brasil cheguem a 200 mil casos, ou muito perto disso, é igualmente alarmante que o presidente da República diga – e será que acredita? – que a pandemia está muito próxima do fim.
Tal crença pode ajudar a explicar, para além dos erros já cometidos, a evidente desarticulação com relação à preparação para a vacinação, embora também, na semana passada, o ministro da Saúde tenha dito, contrariando falas anteriores, que a vacinação poderá começar ainda no mês corrente.
A questão agora está no centro das atenções, em alguma medida alimentando inclusive falsas expectativas. Na Europa, em que as ações de enfrentamento da pandemia, apesar de alguns erros de avaliação cometidos, obedecem a padrões que não podem ser comparados aos locais e as expectativas de vacinação são igualmente melhores, existe consciência da realidade.
E ela indica que será preciso pelo menos mais um ano e meio, se tudo correr bem evidentemente, para que a batalha possa ser dada por terminada e a vitória comemorada com a volta à normalidade, no trabalho, na educação e no convívio social.
Enquanto isso, no Brasil, chama atenção a falta de articulação entre União, estados e municípios, bem evidenciada no anúncio, absurdo e despropositado, evidentemente, de que algumas cidades estariam se preparando para comprar e aplicar por conta própria a vacina.
Despropósito total e mais um sinal preocupante, principalmente quando é lembrada a vasta experiência que o País tem nessa matéria, algo que não pode ser posto a perder. Absolutamente não é hora do “salve-se quem puder” ilusório ou da perspectiva de um milagre que justifique o alívio de pedidas preventivas, mesmo com as curvas negativas em alta.
É hora de fazer diferente, de união e de soma de esforços, se não por senso de responsabilidade, pelo menos por senso de sobrevivência.
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