EDITORIAL | Exemplo a imitar

Até há pouco o Chile era apontado, no Continente, como modelo de sucesso nos campos político e econômico, colecionando, aparentemente, indicadores que sustentavam a conclusão. E não eram raras também as afirmações de que o sucesso do país vizinho carregava as marcas do regime Pinochet, entre tantas, uma das mais sanguinárias ditaduras do século passado na America Latina. As ilusões não duraram muito, como bem demonstram a virtual falência da previdência privada local, durante anos a fio também apontada como o melhor modelo, e a própria crise econômica enfrentada presentemente.
São pontos a observar, o que, entretanto, não impede que também seja ressaltado o belo exemplo que o Chile deu ao mundo, e a alguns de seus vizinhos com a eleição presidencial cujo segundo turno foi realizado na semana passada. Dos dois candidatos, um de esquerda, outro de direita e durante a votação frequentemente apontado como preferido, chamou atenção as reações subsequentes ao anúncio da vitória do primeiro, o líder estudantil Gabriel Boric, de apenas 35 anos. Seu opositor, Jose Antônio Kast, que teria ligações e convicções que remetiam à antiga ditadura, foi o primeiro a ligar para Boric, cumprimentando-o pela vitória, desejando sucesso. E afirmando que ele será o presidente de todos os chilenos. Uma atitude até certo ponto inesperada mas que deve ser saudada como belo exemplo. Tanto quanto o comportamento do presidente eleito, que em seu primeiro discurso pregou união e entendimento para a construção de um país melhor.
Evidentemente que não há como deixar de perceber as diferenças na inevitável comparação com o que se passa do lado de cá da Cordilheira dos Andes, onde as eleições que se avizinham prometem acentuar divisões internas, a um nível de risco que não se pode mensurar. Da mesma forma que alianças e candidaturas vão sendo desenhadas sem que se possa perceber em qualquer delas sinceridade no propósito de propor, debater e implantar um projeto de Estado, de reconstrução que possibilite a reparação de erros e desajustes que tanto se acentuaram nos últimos anos. Nesse plano, sim, as comparações em nada nos favorecem e a maturidade política exibida no Chile deve ser tomada como exemplo.
Para os brasileiros, nesta véspera de um Natal em que o aumento da pobreza, as dificuldades à frente e a mais completa ausência de propostas que respondam aos desafios colocados, retiram dos festejos o brilho e a alegria que são suas marcas, vale muito a pena olhar para os vizinhos chilenos. Sobretudo para entender que é possível, desde que exista entendimento e a comum compreensão do que vem em primeiro lugar.
Ouça a rádio de Minas