EDITORIAL | Exercício impositivo

O império britânico, aquele que um dia pôde proclamar que o sol numa se punha em seus domínios, está cada vez mais distante de seus tempos de glória. Pior, numa marcha inversa de empobrecimento, a tal ponto que já se espera que em prazo relativamente breve será mais pobre que a Polônia, mais conhecida como fornecedora de mão de obra barata aos britânicos. São dados oficiais, pouco comentados externamente, onde as exatas dimensões da crise econômica no país não parecem bem percebidas embora pouco a pouco entre no centro das discussões políticas internas.
A trajetória de queda tornou-se mais perceptível e acelerada a partir da crise financeira de 2008, mas analistas independentes, inclusive do Fundo Monetário Internacional (FMI), entendem que o turning point se deu em 2016, quando o país tomou a decisão de se desligar da Comunidade Europeia. Embora só consumado em 2021, o afastamento teve grande impacto nos investimentos e no comércio externo, resultando numa média de crescimento, a partir de 2010, de 0,5% ao ano enquanto estimativas mais atuais indicam que até o final do ano, considerado período de dois anos, a renda das famílias terá queda de 4,3%. Ao mesmo tempo os serviços sociais, inclusive distribuição de alimentos, operam no limite de sua capacidade.
Turbulência política crescente é outra das consequências esperadas dessa situação, em que o partido conservador ainda detém o poder, mas se mostra cada vez mais frágil, inclusive para levar adiante políticas de recuperação. Nesse foco já não é descartada, inclusive, a possibilidade de um Brexit às avessas, o que contudo levaria um tempo que pode ser demasiado para o país, cuja economia, hoje, é a sexta maior do planeta e deve perder posições proximamente para o Brasil, Coreia e Indonésia, podendo deixar também seu lugar entre as dez maiores economias da atualidade.
Independentemente de questões políticas internas e suas repercussões na condução da economia, chama atenção exatamente a questão do desligamento da Comunidade Europeia, decisão sobre a qual não faltaram alertas, e a forma como aconteceu. Hoje é dito como fato fora de questão que o resultado do plebiscito que determinou a ruptura não foi expressão da vontade coletiva e sim resultado de manipulação. Especificamente, um processo que teve como principal ferramenta as redes sociais, direcionadas para produzir o resultado afinal conhecido. Se arrependimento pudesse ser medido, certamente estaria, no caso, numa escala bastante alta para os britânicos.
Enxergar o que se passou torna-se dessa forma um exercício impositivo para fazer o mundo entender as proporções dos riscos a que todos estamos submetidos.
Ouça a rádio de Minas