EDITORIAL | Falar muito, fazer pouco

Como regra, é das nações industrializadas que chegam notícias e estudos mais alarmantes sobre as possíveis consequências da deterioração ambiental acelerada nos últimos anos. Não foi diferente na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Clima, a COP 27, que acaba de ser realizada no Egito, reunindo quase duas centenas de países. Mas reconhecer problemas e riscos continua sendo uma coisa, construir soluções, que demandariam mudanças radicais nas condições de vida, produção e consumo no planeta, outra bem diferente.
Desde a primeira conferência, no Rio de Janeiro em 1992, tem sido assim e não foi diferente agora, embora os conferencistas tenham necessitado de mais dois dias de trabalho para chegar a uma proposta que ficou longe de ser um roteiro para as ações que eles próprios dizem ser necessárias e urgentes. Em termos acanhados, é bom que seja dito, reconheceram que a degradação ambiental é fruto basicamente da aceleração da produção para atender a um consumo também bem pouco racional, principalmente no que toca ao petróleo e seus derivados. Entendimento que leva necessariamente à conclusão de que, se há culpados a apontar, são os países altamente industrializados, também os mais ricos. Perversamente, são nos países mais pobres que as consequências dessa situação são percebidas de forma mais danosa.
Daí o entendimento, do qual não há como fugir, de que é também responsabilidade dos países ricos pagar a conta dos prejuízos que causam, bem como a principal fatia dos investimentos necessários à recuperação do que foi perdido, antes que, literalmente, chegue o fim do mundo. Foram precisos dois dias extras de trabalho para que chegassem a uma conclusão comum a respeito. E estamos falando de uma conta que, se respeitados acordos anteriores, estaria sendo paga há 2 anos. Não se falou no assunto, não foram mencionados valores e muito menos estabelecidos prazos. Resumindo, não mais que retórica, com pouco ou nada a ver com compromissos efetivos.
Vagamente, mencionou-se a necessidade de “identificar e expandir fontes de financiamento” para a empreitada, que continua por ser realizada, com recomendação de que o tema seja “aprofundado” em novo encontro, daqui a um ano, nos Emirados Árabes. Interessante assinalar que enquanto prossegue o jogo de faz de conta, são mais contundentes as cobranças aos países em desenvolvimento e, muito especialmente, ao Brasil, cujo território abriga a maior fatia da Floresta Amazônica. Claramente e mais uma vez tentativa de desviar o problema de seu verdadeiro foco, nos transformando em vilões, enquanto os verdadeiros culpados continuam fazendo o que sempre fizeram.
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