EDITORIAL | Falta o essencial

As instituições públicas brasileiras, por conta de seus ocupantes, mas forçoso reconhecer, igualmente pela omissão e silêncio da maioria, alcançaram um grau de deterioração que não tem precedentes. Uma situação que só pode produzir preocupação porque, causa e consequência ao mesmo tempo, coincide com um momento econômico desfavorável, cuja evidência mais forte e mais triste estão no subemprego e no desemprego, sem contar as ameaças da inflação. Tudo isso, como se já não fosse o bastante, tendo como pano de fundo uma pandemia transformada em tragédia, perto de nos custar 600 mil vidas.
Nesse ambiente de absoluta fragilidade institucional, no lugar de respostas, de ações focadas e determinadas, surgem aproveitadores de toda ordem, além de oportunistas e propagadores de teses absolutamente despropositadas. Estas últimas variam de delirantes apelos, a uma intervenção militar constitucional (?), num delírio de interpretação do texto legal, aos que negam ter existido no País, em passado ainda muito recente, uma ditadura cujos abusos estão fartamente demonstrados e comprovados.
Tudo provocado, ainda que não muito bem ensaiado, excitando algumas ambições, além de mais um delírio ou despudorada mentira. A reação viria, por mais absurdo que seja o discurso, justamente para defender a democracia e os ritos constitucionais, a estas alturas já fartamente agredidos pelos mesmos oradores, alguns saudosos de 1964. Tentam comparar porque lhes parece conveniente, mas é bastante provável que exatamente nesse ponto seu barco desgovernado naufragará. Não há comparação possível, faltam elementos de convergência.
Para começar, o principal e decisivo, não existe uma força naval dos Estados Unidos navegando em direção ao Brasil, transportando armas, munições e até combustível, além de forças de intervenção, prontas a atuar se o golpe fracassasse. Não é mero detalhe, é o que faz toda diferença, exatamente como aconteceu em 1964. Hoje, ao contrário do passado, não existe apoio internacional, não se sustenta a tantas vezes repetida “ameaça comunista”, nenhum suporte relevante internamente, bem ao contrário, seja na imprensa, seja entre empresários.
Resta uma minoria escandalosa e barulhenta, que se vale do tremendo potencial de fogo dos modernos artefatos de comunicação eletrônica, para difundir mentira, confundir e produzir medo. Em síntese, uma aventura em que as Forças Armadas não parecem ter nem intenção nem disposição de embarcar, embora cometam o erro de não deixar suficientemente clara sua verdadeira disposição.
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