EDITORIAL | Faltam ideais, faltam rumos

A política partidária no Brasil se apequenou de forma dramática nos últimos anos, consequência de distorções que foram se acumulando ao longo de décadas e, historicamente, da inversão de valores que levou ao entendimento de que o Estado existe para ser servido pelo cidadão e não o contrário.
Proclamada a independência em 1822, teve início um processo de acomodação, sendo bastante lembrar que o novo país indenizou seus colonizadores e, ao contrário do que costuma ser dito nas escolas, o processo não foi nem natural nem pacífico e por pouco o território brasileiro não acabou dividido.
Durante o Império, sobretudo no reinado de Pedro II, houve alguma estabilidade que possibilitou avanços marcantes, que, entretanto, não evitaram a mudança de regime com a Proclamação da República, que nasceu mais como uma dissidência, ou um parto prematuro, que propriamente para fazer melhor e fazer diferente.
Muito possivelmente continuou faltando estabilidade porque faltavam também objetivos, com as crises e rupturas sucedendo-se de forma regular. Tudo isso para desaguar, hoje, num processo de radicalização que apartou brasileiros entre dois grupos mais barulhentos que, mesmo estando longe de representar a maioria, de ser expressão verdadeira da vontade coletiva, agem como se assim fossem.
Tudo isso como numa realidade aparente, muito provavelmente apenas virtual, onde se deu até o suposto milagre da ressurreição de sistemas políticos que sucumbiram ao próprio fracasso. Eis porque nesse mundo de superficialidades, ou se é favor das forças dominantes e portanto fascista, ou contra, e dessa forma comunista. “Nós” e “eles”, sem aparente possibilidade de entendimento ou convergência. Já nos rótulos ficam explícitas as proporções das distorções, numa profunda alienação cujos resultados são de conhecimento geral.
Falta saber, e apontar, quem é a favor do Brasil e não de si próprio, num jogo cujos maus resultados, tanto quanto os riscos, aos poucos nos impõem uma regressão que na mesma proporção afasta o futuro desejável, se marcado pela prosperidade e liberdade. Resumindo e já próximos da conclusão, lembramos as eleições municipais que se aproximam, tendo em conta que é nesse espaço que a política institucional começa a ser moldada.
Espaço, portanto, natural para as perguntas que continuam sem respostas, levando a reflexões que poderão determinar que afinal a política se faça como uma construção coletiva, plural, comprometida e para o bem comum. Parece muito, mas seria apenas o começo.
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