Opinião

EDITORIAL | Fantasma que nos assombra

EDITORIAL | Fantasma que nos assombra
Marcelo Camargo/Agência Brasil

A escalada dos preços volta a preocupar, principalmente àqueles que acompanhavam, entusiasmados, o recuo, mês a mês, dos índices oficiais. Aparentemente uma situação que não faz sentido, principalmente porque não obedece à lógica da ciência econômica. As perturbações, no mundo inteiro, são bastante severas, ditadas pela pandemia que foi muito além do inicialmente imaginado.

As economias recuaram e estão contraídas, em alguns casos a níveis que não encontram comparação no passado. Diminui a produção, a oferta de empregos e, consequentemente, aumentou o desemprego, com perda de renda e do poder de compra.

Tal diagnóstico se aplica perfeitamente ao Brasil, tecnicamente em recessão, mas ainda assim enfrentando também uma inesperada escalada de preços que começa a preocupar. Caso dos alimentos, que estão subindo muito além da inflação, estimando-se que a alta média chegue aos 10%. Questionado, o Ministério da Agricultura enigmaticamente garante apenas que não haverá desabastecimento. Enquanto isso, o presidente da República, preocupado, apela ao senso patriótico dos donos de supermercados, mas não comenta que os preços administrados, como o gás de cozinha, item básico nas moradias pobres, vem subindo com velocidade bem maior.

O diagnóstico refere-se a uma situação muito séria e não pode ficar na superfície, menos ainda no achismo. Fala-se, por exemplo, que as flutuações do mercado devem ser debitadas ao aumento da demanda externa, que pode indicar formação de estoques como antídoto para a insegurança predominante. Pode até ser, mas não faz sentido que os produtores, satisfeitos também com o câmbio que no momento os favorece muito, façam de conta que não estão vendo o que acontece, numa escalada que, a prosseguir, tende a contaminar todos os preços.

Lembrando o exemplo mais próximo, em Belo Horizonte, para uma inflação que não chega aos 2%, os preços médios dos alimentos já subiram o dobro, alguns muito mais, e nada sugere que este ciclo se completou. Como se não nos faltassem problemas, temos mais um, desbalanceando ainda mais a relação entre preços e poder de compra. Que não seja a volta de um triste passado, em que a ameaça de inflação era suficiente para inflar os preços, numa situação de completo descontrole. Queimamos essa etapa, muito provavelmente nossa maior vitória no campo da economia, e definitivamente não podemos aceitar qualquer regressão.

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