EDITORIAL | Finalmente, as vacinas

Começou finalmente a vacinação, por enquanto um ato mais de valor simbólico que prático. O Brasil, embora apresentando alguns números que estão entre os piores do planeta, perdeu tempo, tempo precioso que custou e custa vidas, deixando evidências claras de que as autoridades federais, responsáveis primeiras pelo enfrentamento da pandemia, não souberam avaliar as proporções da tragédia que se abateu sobre o planeta. E, inertes, visivelmente sem saber o que fazer, preferiram negá-la, fazendo de um problema médico, sanitário, uma questão política. Assim, decisões imperativas foram adiadas, desde a compra de insumos essenciais como a própria vacina e, pior ainda, o material necessário à sua aplicação, ao mesmo tempo em que, por razões que escapa à razão, tentaram impor soluções ilusórias, oferecendo receitas que a ciência não reconhece.
De qualquer forma, um alívio, uma luz no horizonte, embora persistem ainda dúvidas sobre o tempo que será necessário para que tenhamos acesso à provisão necessária de vacinas, lembrando que na contagem atual cada dia que passa morrem perto de mil pessoas, sendo que já passamos das 200 mil vítimas. Uma calamidade diante da qual o que não se pode é baixar a guarda, o que depende também, talvez até mais, do conhecimento e da atitude de cada indivíduo que propriamente da tutela do Estado. Porque a vacina traz esperanças, mas absolutamente não representa o fim do problema, entre outras razões porque depende da imunização de pelo menos 70% da população, o que continua muito longe de acontecer.
Assim, como já foi dito e repetido e não pode ser esquecido, o uso de máscaras, a prática do distanciamento social e cuidados com a higiene prosseguem obrigatórias e assim será, estima-se e imaginando que tudo corra bem, até meados do próximo ano.
E acreditar, claro, que este possa ser um momento de inflexão, marcado pelo entendimento, pelo fim da politização sobre a qual, se dúvidas ainda pudessem existir, acabaram com a vacinação, no domingo, de uma enfermeira em São Paulo, ridículo espetáculo midiático que não deveria ter acontecido. Melhor teria sido olhar mais a sério para o que se passa em Manaus, melhor entender e avaliar os riscos de que o descontrole e o colapso dos serviços de saúde ainda podem se ampliar. Tirar o atraso, fazer afinal o que não foi feito antes, dando suporte efetivo aos serviços médicos e aos centros de pesquisa e produção, apagando a politização que, esperemos todos, cujo fim tenha coincidido com o fim do governo Trump, sem o risco de ainda encontrar imitadores.
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