EDITORIAL | Fingindo de mortos

Por razões que escapam à razão, mas tem custado extremamente caro aos brasileiros e ao País, desde o governo passado, do presidente Temer, a política de preços do petróleo tem como ponto central a paridade com as cotações do mercado internacional. Estas, evidentemente, ditadas por interesses nebulosos. Disso resultou, em termos práticos, a escalada dos preços dos derivados do petróleo, com implicações diretas e nocivas no aumento da inflação, que já beira os dois dígitos, tendo como símbolo mais cruel o retorno ao uso, pelas populações mais pobres, de fogões a lenha.
Em mais de uma ocasião o presidente da República condenou essa política, porém acrescentando que não tem como alterá-la, uma vez que a Petrobras é empresa de capital aberto, com ações inclusive na Bolsa de Nova York, onde se comemora a escalada dos lucros da empresa e de seus dividendos.
Bolsonaro se esquece que o governo brasileiro continua sendo o acionista majoritário da empresa, mas, surpreendentemente humilde, se cala quando o presidente da Petrobras declara, peremptório, que não haverá alterações no curso traçado.
Como é de praxe e de longa data nesse mundo onde o interesse público sempre fica por último, a Petrobras, sempre de olho nas oscilações das cotações internacionais do petróleo, chegou a ordenar aumentos quase diários, imediatamente repassados aos distribuidores e aos varejistas, chegando assim aos consumidores. Eis porque o botijão de GLP já passou dos R$ 100, enquanto o litro da gasolina vai além dos R$ 7. E nenhum sinal de que isso possa mudar, mesmo que, desde outubro os preços do óleo bruto venham caindo, com a cotação do barril variando entre US$ 86 e US$ 79, acumulando queda que gira em torno dos 19%.
Para quem tanto falou em paridade, defendendo-a com argumentos que não se sustentam e praticando-a com absoluta insensibilidade quando a curva dos preços apontava para cima, é absolutamente revoltante que estes mesmos senhores não tenham nada a dizer ou fazer quando a balança passa a pender para o lado dos consumidores. Tão ágeis, tão eficientes no movimento contrário, eles agora fingem de mortos, chegando ao cúmulo de desmentir o presidente quanto este disse, no início da semana, que os preços dos derivados poderiam cair, acompanhando a tal paridade que tanto defenderam.
Este não é o primeiro nem o único caso em que tal comportamento prevalece, sempre em detrimento do interesse público, mostrando a distância abissal entre os agentes públicos e, sem meias palavras, suas vítimas.
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