Opinião

EDITORIAL | Fracasso ou progresso?

EDITORIAL | Fracasso ou progresso?
Crédito: ALISSON J. SILVA

Dados recentemente divulgados com chancela da UFRJ – o “Mapa de Motorização Individual 2019” – indicam que a Região Metropolitana de Belo Horizonte teve em 2018 o maior aumento na frota de veículos leves em comparação com o ano anterior, com a frota atual bem perto de chegar a três milhões de unidades, ou um veículo para cada dois habitantes. O crescimento da frota no Estado foi de 7,3%, quase o dobro da média nacional e bem mais que os 3,9% alcançados na Grande São Paulo, a região mais rica do País. Em apenas dois anos a frota em circulação na região metropolitana ganhou mais 200 mil unidades e em dez anos, entre 2008 e 2018, quase dobrou, com aumento de 91%.

São dados impactantes, tendo em conta os problemas de mobilidade, já amplamente conhecidos, bem como as dificuldades de circulação, seja para veículos leves, seja para o transporte coletivo ou de carga. Tudo isso representa dificuldades também para a população, desconforto no mínimo, e impacto econômico igualmente relevante. E sem espaço para a conclusão mais simples, de que o aumento verificado seria simplesmente indicativo de melhoria também nas condições econômicas.

O fato supõe outro tipo de abordagem, mesmo num contexto em que a falta de capacidade de investimento público explica o descompasso entre a demanda e a oferta de equipamentos urbanos. Um problema na realidade bem mais antigo, nos parecendo suficiente recordar a paralisação das obras de construção do metrô, sistema de transporte de massa que, em Belo Horizonte, continua sendo quase virtual. Da mesma forma é gritante o descompasso no que toca aos espaços destinados à circulação de veículos individuais, de quatro ou duas rodas. Segundo estudos mais antigos, a diferença entre o que foi feito e o que deveria ter sido feito, em termos de ampliação dos espaços destinados à movimentação desses veículos, seria maior que 80%.

Tudo isso, cabe acrescentar, fruto de opções equivocadas, no final da segunda metade do século passado, depois da Grande Guerra, quando o País, imitando o modelo norte-americano, elegeu o transporte sobre rodas, de pessoas e de cargas, rodoviário e urbano, como opção central de um modelo de prosperidade e modernidade, ainda que distante da racionalidade das ferrovias e dos metrôs, que hoje já se comprovou equivocado. Entender o que acontece, entender por que a circulação nos grandes espaços urbanos é cada vez mais difícil e problemática, será o primeiro passo para compreender o problema, cujos números aqui apresentados traduzem.

Não como sinal de prosperidade ou de avanço em qualquer sentido, senão justamente o contrário conforme pode ser facilmente percebido.

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