Opinião

EDITORIAL | Frustração à chilena

EDITORIAL | Frustração à chilena
Crédito: Pexels

O Chile, até há pouco visto e apontado como uma espécie de paraíso na América Latina, colhendo os frutos de um modelo econômico em que o conceito de estado mínimo foi levado ao limite, pode ter vivido uma grande ilusão que se aproxima do fim. A ilusão da prosperidade rápida e ao alcance de todos se desmancha, deixando no ar crescente insatisfação já com evidentes reflexos na política.

O modelo que, segundo especialistas independentes, produziu consumidores mas não produziu renda, se esgota em parte no endividamento, que por sua vez deriva da concentração da renda numa economia essencialmente primária e dependente. A decantada vitalidade e modernidade, exaltadas e apontadas como melhor exemplo, em síntese durou bem menos do que o imaginado.

A frustração, suficientemente clara diante da constatação de que hoje 43% da população chilena esteja alojada na classe média baixa, enquanto 33% da renda nacional está em poder de 1% da população, apaga a festejada redução da pobreza, que, nos anos 90 do século passado, teria sido reduzida de 68% para 8,6% da população.

Tudo isso, apontam análises do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), evidencia que não houve acesso real, efetivo e igualitário, à saúde, educação, habitação e qualidade de vida. Algo que evidentemente incomoda e leva a sociedade local a reclamar, com ênfase crescente, um modelo de desenvolvimento socialmente inclusivo, objetivo que não pode ser alcançado sem que o Estado possa ser o elemento de equilíbrio.

Rever o que se passa no Chile e, sobretudo, considerar os resultados alcançados, que já bastam, no caso, para apagar a ilusão do paraíso liberal, será quando menos um exercício de extremo valor pedagógico, pragmático e sem qualquer coloração ideológica. Trata-se de procurar entender, simplesmente, que equilíbrio e prosperidade coletiva é melhor para os negócios e, mais amplamente, também para a própria segurança global.

Exatamente como apontou recentemente o presidente Biden, dos Estados Unidos, o país mais rico do planeta, ao anunciar o programa de investimentos de seu governo, no qual o dado mais importante é exatamente o reconhecimento do papel do Estado como promotor de investimentos que gerem prosperidade mas também redução das desigualdades.

Sem dúvida alguma, cabe prestar muita atenção naquilo que, agora, surpreendentemente, surge como exemplos extremos e aparentemente antagônicos. Para assim entender mais facilmente onde encontrar a racionalidade que precede o equilíbrio desejável.

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