EDITORIAL | Garantir a democracia

Um grupo de brasileiros, felizmente de mínima expressão no conjunto da população, embora barulhentos, aceitou o jogo, mas não o resultado. E, num processo bem próximo ao delírio, tentaram voltar ao passado, acreditando ser possível fazer os relógios girarem ao contrário, impondo suas preferências com propostas que não param em pé, tudo isso baseado na tese, que não tem a mínima comprovação, de que a eleição do dia 30 teria sido fraudada. Seria caso único em que a oposição conseguiria intervir num sistema que em última análise é controlado pela situação.
Em nome da sua verdade, ou de fantasias, passaram uma semana, pouco menos, tentando espalhar o caos, bloqueando rodovias e alguns espaços urbanos, repetindo 1964, também ao garantir que o País se encontra sob grave ameaça comunista, tentando o milagre de ressuscitar este regime político, ao mesmo tempo em que foram parar nas portas de alguns quartéis, reclamando, em nome deles mesmos, “intervenção federal”, seja lá o que isso possa ser, ou “golpe militar com Bolsonaro no poder”, ainda pior. Felizmente não conseguiram ver nem mesmo um quepe de oficial.
Há que assinalar que nessa empreitada ensandecida, fartamente documentada em filmes, fotos e gravações, cometeram uma coleção de crimes, começando por atentar contra o regime, o que a Constituição obviamente veta, e terminando por impedir o direito de ir e vir de milhões de brasileiros. Nada disso cabe, como alguns pretendem, na definição de liberdade de expressão e manifestação. É crime e o que se espera é que, cumprido o devido processo legal, sejam todos punidos, principalmente aqueles que, julgando-se protegidos pelas sombras, como de costume, financiaram e comandaram essa bizarra sucessão de atentados aos valores sobre os quais está assentada a nação brasileira.
As autoridades constituídas asseguram que tudo está sendo investigado, inclusive a evidente omissão de autoridades policiais, como parte da Polícia Rodoviária Federal (PRF), e que todos serão enquadrados e punidos no devido tempo pelos crimes cometidos. O que não podemos, de fato e sob risco de que tudo se repita, é deixar o dito pelo não dito, passar o pano e fingir que nada aconteceu. Nem mesmo algum tipo de acomodação, como a história brasileira registra nos seus momentos mais críticos, será tolerável. Esta é a indeclinável obrigação dos poderes constituídos, que foram também duramente atacados e que, com o amparo da lei e da maioria dos brasileiros, ainda que sistematicamente atacados por um sistema de propaganda que também deve ser desmontado, tem poderes, legitimidade e instrumentos para reagir, hoje precondição para que exista normalidade e futuro para todos os brasileiros.
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