Opinião

EDITORIAL | Gargalo de transportes

EDITORIAL | Gargalo de transportes
Crédito: Ministério da Infraestrutura

O paulista Washington Luiz, presidente da República entre os anos de 1926 e 1930, teria dito que “governar é abrir estradas”. Não estava errado, principalmente na sua época, quando a única estrada pavimentada no País ligava o Rio de Janeiro a Juiz de Fora. Era uma limitação crucial para um país de extensão territorial continental e com um potencial de crescimento econômico reconhecido, porém limitado exatamente pelo isolamento imposto pelas condições de mobilidade.

Dependíamos, para o transporte interno, das ferrovias, que chegaram a contar com uma malha relativamente extensa, porém dependentes de investimentos que suas operadoras, empresas estrangeiras, não tinham apetite para realizar. Restava a navegação de cabotagem, que chegou a ter uma dinâmica interessante, na condição de única ligação viável entre os pontos mais distantes.

O progresso, no caso bem simbolizado pela frase atribuída a Washington Luiz, acabou cobrando do País um preço excessivamente alto e que é pago até o presente. Sim, e a partir dos anos 40 no século passado, quando foi inaugurada a Rodovia Presidente Dutra, para a época maravilha da engenharia que produzia também a ilusão de nos colocar entre os países avançados, dando início a um ciclo que adiante o presidente Juscelino Kubitschek acelerou.

O erro, o grande erro, é desde esta época, no que toca a transportes, recursos e energia foram concentrados exclusivamente nas rodovias. Pior, a malha ferroviária, que chegou a ter expressão e ser relevante, foi progressivamente abandonada, sucateada na realidade como bem atestam as estações abandonadas em muitas cidades do País, o mesmo acontecendo com os trilhos. Também a navegação de cabotagem foi perdendo importância, enquanto a navegação interna, fluvial, na realidade nunca chegou a existir, exceção unicamente ao rio Amazonas.

Num rápido resumo, foi assim que o País se tornou refém do transporte sobre rodas, ou caminhões, que movimentam internamente mais de 70% das cargas. Hoje, com uma política de preços para os derivados de petróleo tão absurdamente equivocada que o preço do óleo diesel já passando dos R$ 3,00 e o presidente da República lembrando, numa referência ao assunto, que não há nada tão ruim que não possa piorar. Mas poderia, fossem outras as condições da gestão pública, melhorar.

Primeiro, com uma política mais racional de preços para os derivados de petróleo, segundo com um olhar mais amplo sobre o setor de transportes, reforçando modais hoje abandonados e caminhando para a construção de um sistema integrado, aproveitando melhor as características e vantagens competitivas de cada um deles. Com os caminhoneiros de facas nos dentes, mais que necessário é urgente.

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