Opinião

EDITORIAL | Gastar menos e fazer mais

EDITORIAL | Gastar menos e fazer mais
Crédito: Divulgação

Apesar da demora, depois de passar por sucessivos governos, a reforma do sistema previdenciário avança, mesmo que ainda com limitações que permitem supor que em dez anos, pouco mais pouco menos, o País estará de volta ao mesmo ponto. A hipótese só não será confirmada se a tão aguardada retomada da economia acontecer, levando a renda interna a um patamar compatível com os gastos e numa realidade, que hoje soa utópica, em que melhore também, e muito, a qualidade dos gastos.

Nesse campo há muito o que fazer e as possibilidades são grandes. Tomemos como exemplo, e apenas para abordar uma das vertentes do problema, números contidos em recente relatório do Tribunal de Contas da União (TCU). O órgão, depois de examinar 38,5 mil contratos relativos a obras públicas, concluiu que 14,3 mil empreendimentos, de escolas a hospitais, passando por rodovias e o que mais se puder imaginar, não foram concluídos no tempo previsto, estão abandonados e em processo de inevitável deterioração, embora com eles tenham sido gastos pelo menos R$ 10 bilhões. Dinheiro que escorre pelo ralo da má gestão e numa conta em que não estão incluídas obras estaduais e municipais em situação idêntica. Faltam escolas, faltam hospitais, faltam também cadeias onde alojar os responsáveis por tanto desperdício ou incompetência, os dois mais provavelmente. Das obras listadas pelo TCU, mais de mil se encontram em Minas Gerais e representaram gastos de mais de R$ 3 bilhões.

Nada que chegue a ser, pelo menos para a parcela mais bem informada dos brasileiros, uma novidade. Gasta-se muito e gasta-se mal, um pecado bastante antigo, ajudando a confirmar a tese de que o Estado brasileiro e sua renda teriam sido sequestrados. Um problema e ao mesmo tempo uma possibilidade. Pode ser diferente, é perfeitamente possível encontrar espaço adequado e bem servido, por exemplo, para as 75 mil crianças que continuam fora de creches que deveriam ser providas pelo Estado.

Dito de outra forma, o problema claramente aponta uma solução, sugere que acabar o que foi começado pode ser uma saída inteligente e até mais rápida, lembrando também promessas de campanha, das quais os eleitos, como regra, rapidamente se esquecem. Lógica elementar, mesmo que o próprio TCU diga que hoje não é possível afirmar quanto exatamente seria preciso, em valores, para concluir as obras elencadas. Em qualquer hipótese, imagina-se, será menos do que abrir novas frentes e, mais importante, indicação de um novo padrão de comportamento e de comprometimento com o interesse público, ensinando que é perfeitamente possível gastar menos e fazer mais.

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