EDITORIAL | Hipercentro pede atenção

Comemorou-se esta semana, em Belo Horizonte, a venda em leilão, depois de tentativas frustradas, do prédio onde funcionou, na avenida Afonso Pena, o hotel Othon Palace. O hotel, representante local daquela que já foi uma das mais importantes cadeias hoteleiras do País e enfrentou dificuldades societárias para, muito fragilizada, afinal sucumbir aos efeitos da crise econômica, chegou a ser apontado como um dos marcos do hipercentro da cidade.
Os compradores não são conhecidos, da mesma forma que os planos para sua nova propriedade, mas parece certo de que o processo de degradação, seja qual for o uso a ser dado ao imóvel, será detido, com reflexos positivos que justificam o entusiasmo com que a notícia foi recebida.
As cogitações a respeito necessariamente conduzem a uma outra questão, a deterioração da região central da cidade e os planos de revitalização sucessivamente anunciados ao longo dos últimos anos, mas nenhum deles cumprido a contento. Os processos de urbanização, não apenas local, mas igualmente em cada uma das grandes cidades brasileiras e em diversos outros pontos do globo, ganharam velocidade a partir da segunda metade do século passado, coincidindo por alguma razão com o esvaziamento das antigas regiões centrais que perderam, sobretudo, grande parte da população residente, transformando-as em perigosos desertos noturnos.
No caso de Belo Horizonte, que essencialmente não guarda diferenças com o que se passa em outras localidades, apontam os estudiosos, urbanistas, arquitetos e engenheiros principalmente, que a revitalização desejada só poderá acontecer em termos satisfatórios a partir da reocupação do hipercentro, onde inclusive é grande o número de imóveis residenciais ociosos, desocupados. Deter este processo ou, na realidade, revertê-lo, seria a chave para transformações muito bem-vindas, com reflexos positivos também na mobilidade. Questão de elementar racionalidade, inclusive ao evitar deslocamentos, às vezes longos, e desnecessários.
Nada de novo, nada que não tenha sido apontado antes e seja bem conhecido. A questão, como em tantos outros aspectos que poderiam ser apontados, está no fazer, dando forma, conteúdo, concretização a projetos esquecidos, embora sua importância vá muito além da revitalização do hipercentro propriamente dito. O prédio do antigo Othon, apontado como um dos ícones da região central de Belo Horizonte, nos faz enxergar o descaso, da mesma forma que pode demonstrar que é possível reagir, para benefício de toda a cidade e de sua população.
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