EDITORIAL | Hora de pensar no bem comum

Existem serviços que são essenciais, que deveriam estar ao alcance de todos e, neste rol, em primeiro lugar devem ser incluídos água tratada, eletricidade e mobilidade, tudo isso supondo a existência de um teto que abrigue os beneficiários destes serviços. Na mesma linha, baseado no mesmo raciocínio, poder-se-ia acrescentar saúde e educação. São, ou deveriam ser, serviço público, como tal ao alcance de todos, exatamente como já acontece nas sociedades que mesmo não sendo as mais ricas são as mais evoluídas. Melhor exemplo, os países nórdicos.
Nada evidentemente que possa lembrar o Brasil, onde, a depender exclusivamente da vontade dos governantes, todas as empresas públicas, mesmo aquelas que prestam serviços essenciais, seriam vendidas. Seria o caso de indagar se, para uma pessoa de bom senso, faria algum sentido transformar serviços de esgoto em negócio, como tal obrigatoriamente lucrativo, num contexto em que o interesse social pouco importa, assim como nada parece importar que para cada real investido em saneamento outros 10 reais podem ser economizados em saúde.
Fosse outro o contexto, e estamos pensando nos países ricos, desenvolvidos e democráticos, onde haveria dúvidas, neste ou em quaisquer outros casos, quanto à primazia do interesse público. Não estamos, os brasileiros, nessa conta, e o exemplo mais recente é o petróleo, que, em tese, fazendo parte das riquezas naturais do País, deveria ser extraído e beneficiado para servir aos interesses gerais da população, cujo conjunto representa os acionistas majoritários da Petrobras, nunca a investidores especulativos da Bolsa de Nova York, como ocorre presentemente. E é justamente para atender a este segundo grupo que o litro da gasolina está custando mais de 7 reais e a lenha, substituindo o GLP, já é de uso predominante para as populações mais pobres.
Nada disso, evidentemente, parece fazer o menor sentido e menos ainda que o próprio presidente da República, cujo senso de timing é um tanto peculiar, volte a falar na privatização da Petrobras, enquanto seu ministro da Economia, que bem poderia fazer melhor uso da bola de cristal que aparentemente possui, antecipa que é preciso acelerar esse processo porque num futuro que não está distante a estatal não valerá nada. Um fim melancólico, absolutamente triste, para um Brasil que bem poderia apontar, dentre suas maiores conquistas contemporâneas, o desenvolvimento da tecnologia que possibilitou prospecção e extração de petróleo no mar, a grandes profundidades, feito que poderia ser a chave para mudanças ainda maiores e na direção do bem comum.
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