EDITORIAL | Ideais longe da realidade
Surpresas são sempre possíveis e, em se tratando de eleições, atentamente monitoradas pelas pesquisas de opinião e outras ferramentas de aferição, especialmente desejadas pelos que ainda acreditam, ou fingem acreditar, ainda ser possível avançar na direção do topo. Ou, pragmaticamente, no caso das votações majoritárias, para um lugar no segundo turno. Faltando uma semana exatamente para a votação principal, é este o clima no País, com a diferença, em relação a eleições anteriores, que toda a movimentação e expectativas são potencializadas – e em larga medida distorcidas – pelas novas ferramentas eletrônicas de comunicação, em especial as redes sociais.
No caso presente, e conforme avaliação de um mestre da Fundação Getulio Vargas (FGV), é possível estimar que pelo menos 40% dos perfis de apoiadores de candidatos, e nesse caso aparentemente sem diferenças ideológicas, são falsos, muitas vezes máquinas que nada informam e muito confundem. Tudo isso com um impacto que o especialista define como “brutal”. Caberia imaginar, obviamente a partir de critérios mais rigorosos e menos elásticos, o que, afinal, esperar de alguém que entra no jogo político pelas portas da mentira, situação em que aparentemente se encontram os astros principais do espetáculo em andamento.
Também chamam atenção, e igualmente escandalosamente, os movimentos que já ensaiam alguns partidos políticos, de aproximação com os favoritos e, por óbvio, de abandono de antigos aliados. Tamanha mobilidade, ainda que não seja nova, continua impressionando, num pragmatismo que adiante vai explicar a fragilidade das alianças, sempre mutantes, a falta de convicções e, por fim, a forma como tudo isso se reflete na gestão pública, em que conceitos republicanos por suposto inabaláveis acabam transformados em mera esperteza.
São constatações que nos fazem acreditar que, apesar do desejado e até certo ponto esperado, as mudanças políticas, indicativas da ruptura de seus maus hábitos, continuam sendo postergadas. Temos mais do mesmo, estão presentes, a rigor, os mesmos ingredientes que ajudaram a produzir a dramática situação em que o País se encontra no que toca à própria política, à administração pública e ao desempenho da economia, tudo isso potencializado pelas tecnologias e máquinas que, mal utilizadas, só fazem reforçar tais distorções.
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O sistema parece ter sido ajustado dessa forma, exatamente para servir àqueles que se apropriaram do Estado brasileiro, em detrimento da maioria, de resultados e sobretudo de valores de que tanto se falou nos últimos tempos, muito mais por conveniência que propriamente por convicção. É assim que o futuro tão desejado, além de possível, vai sendo adiado.
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