EDITORIAL | Ilusões da propaganda
Começa hoje, faltando pouco mais de um mês para a votação, a campanha eleitoral gratuita que utiliza como veículo a televisão aberta. Uma aposta alta para a maioria dos candidatos, tendo em conta, principalmente, que os recursos para campanhas estão, em tese, mais escassos, principalmente para publicidade. Para a maioria dos candidatos, é a chance de se fazer conhecido e, mais, de cativar os eleitores. É bem possível, no entanto, que o modelo cuja criação remonta à ditadura e à tristemente lembrada “Lei Falcão”, quando a propaganda se limitava à apresentação do nome e foto do candidato, acabe criando mais e maiores distorções. E não poderia ser diferente, bastando considerar que as candidaturas mais bem amparadas poderão utilizar diariamente até 15 minutos para propaganda, enquanto aos chamados “nanicos” restarão apenas dois segundos.
São na realidade equívocos e distorções que vão sendo superpostas, a começar do próprio conceito de uso gratuito da televisão, que é falso. Na verdade, o horário ocupado está sendo pago, e essa conta acaba no bolso de cada contribuinte. A distribuição do tempo disponível, proporcional às bancadas de cada partido no Congresso, tem certa lógica, mas torna disfuncional o sistema adotado, por conta da desproporção estabelecida, o que igualmente remete à existência, no País, de um pluripartidarismo que tem como régua e compasso interesses nada republicanos.
Seja como for, é preciso aguardar os possíveis efeitos da campanha, em tese massificada, que está começando hoje. E, sobretudo, prestar muita atenção no que estarão dizendo os candidatos, principalmente aqueles que disputam posições no Executivo. Pelo que deles já foi possível ouvir até agora são constantes as afirmações de que o País vive momentos difíceis e, igualmente, declarações de que soluções estão ao alcance da vontade que cada um deles, sem exceção, diz encarnar. Tudo, no entanto, e até agora, no rol das promessas fáceis e das boas intenções, da repetição de temas e de argumentos construídos exclusivamente conforme o rumo das pesquisas de opinião. Em síntese, cada um diz o que imagina ser a preferência do eleitor, ser a isca capaz de fisgar seu voto.
Até agora, nada que lembre, de fato, um programa de governo e como tal estruturado, com metas, prazos e custos adequadamente definidos e apresentados, sustentados em compromissos também suficientemente claros. Nada que lembre também, coerentemente, o tamanho das dificuldades que o País enfrenta e que tendem, mantidas as condições que se apresentam, ao crescimento exponencial.
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Verdades que já são amplamente conhecidas mas que, pelo visto, o candidato que vencer só reconhecerá no primeiro dia do próximo ano, quando tomar posse.
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