EDITORIAL | Interesses conflitantes

A Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU (COP26), que começou esta semana em Glasgow, na Escócia, e vai até o próximo dia 12, mais que advertência representa um ultimato para a humanidade. As distorções no processo de ocupação de territórios, a industrialização acelerada e, sobretudo, o aumento de combustíveis fósseis representam, cada vez mais, um risco que, se não for controlado, poderá ser o equivalente a uma espécie de suicídio coletivo. Embora os discursos, quase todos, mais uma vez sejam neste tom, transparece a distância entre o que é dito e o que é feito. Todos parecem concordar, desde que a conta, estimada em trilhões de dólares, não lhes sejam cobradas.
Numa análise objetiva, a primeira conclusão pelo aumento da poluição e das emissões nocivas é o uso intensivo de petróleo e seus derivados, principalmente em veículos movidos por motores à explosão, cuja maior frota se encontra no mundo desenvolvido, que também abriga, majoritariamente, as fábricas que despejam na atmosfera resíduos de óleo ou carvão. Mas, num esforço de propaganda destinado a desviar as atenções, procura-se fazer crer que o grande culpado é o desmatamento e nesse contexto, com muita ênfase, a região amazônica, erroneamente chamada de pulmão do mundo.
Em Glasgow, nesses dias, a situação se repete, embora o primeiro-ministro britânico tenha aberto a conferência chamando atenção para as emissões de veículos com motores à explosão. Não se trata, absolutamente, de diminuir a importância da Amazônia e, consequentemente, os cuidados permanentes que deveriam cercar a floresta, sobretudo com as melhores técnicas de remanejamento que representam a melhor garantia de um futuro saudável. Não se trata, tampouco, de defender as políticas atuais, com uma sucessão de erros que deveriam envergonhar o País e, inclusive, ajudam a alimentar a propaganda externa, cujos objetivos mais amplos são geopolíticos, assumidamente questionam a soberania brasileira na região.
Em síntese, existe um grave problema a ser resolvido, esforço que deve começar pelo reconhecimento de sua verdadeira natureza. Ou não saberiam, os mesmos líderes que dizem temer o aquecimento global e apontam as emissões veiculares como sua maior causa, que chegamos a esta situação simplesmente porque os interesses econômicos das indústrias petrolíferas e automotivas prevaleceram, apesar dos riscos e em nome do lucro fácil, quando é sabido que existem alternativas viáveis ao motor à explosão, de baixa eficiência, que poderiam estar em uso há muito tempo, o que só não aconteceu porque é mais conveniente proteger o lucro da indústria do petróleo.
Ouça a rádio de Minas