Opinião

EDITORIAL | Jogo de interesses

EDITORIAL | Jogo de interesses
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

No discurso oficial, e ainda assim sem reconhecer erros cometidos anteriormente, o Ministério da Saúde garante que o processo de vacinação, ainda muito lento, está a ponto de ganhar volume, com a garantia de suprimento de matéria-prima e, assim, finalmente, início da produção de vacinas em massa.

Fala-se também em incremento dos contatos com a China, agora com participação direta do Congresso Nacional, visando engavetar desavenças anteriores e, apelando até para gesto humanitário, que se incremente o volume de entregas, inclusive de vacinas prontas, até que a oferta finalmente se aproxime do ideal e do necessário, posto que o tal spray nasal israelense não foi mesmo nada mais para que ocasião para um passeio a Israel, do qual não fez parte, por absurdo que pareça, suposto maior interessado, o ministro da Saúde.

Mais uma contradição entre muitas, mais uma evidência de absoluta falta de coordenação quando o Ministério das Comunicações anuncia que a chinesa Huawei poderá participar da concorrência para implantação da infraestrutura do sistema 5G, porém ficará fora da implantação da rede exclusiva do governo.

Mais uma cutucada, mais um gesto desnecessário e contraditório, considerando que nas entrelinhas fica claro que a decisão anunciada seria, simplesmente, uma questão de confiança. Ao mesmo tempo indelicadeza, hipocrisia ou, simplesmente, falta de conhecimento da realidade.

Porque descartar os chineses significa também cair nos braços dos Estados Unidos, que, pelo menos para quem tem na memória acontecimentos ainda recentes, não é mais confiável. Só lembrar, há menos de dez anos, que a própria Casa Branca, depois de pilhada, reconheceu que bisbilhotava, sistematicamente, sistemas de comunicação de países aliados, França, Alemanha e Grã-Bretanha entre eles.

Sobrou até para o Brasil, com a confirmação, à época que até os telefones da então presidente Dilma Rousseff eram monitorados e, pior ainda, também da Petrobras, o maior valor estratégico brasileiro, sem lugar a dúvidas.

Na realidade um processo de monitoramento, num contexto evidente de espionagem, que vem desde a Guerra Fria, que incluía a telefonia convencional através do monitoramento de palavras-chave, e apenas ganhou fôlego e abrangência com as novas tecnologias.

São fatos, conhecidos e reconhecidos, embora varridos para debaixo do tapete por uma suposta e pouco inteligente conveniência. Conveniência exatamente a palavra-chave para a escolha da melhor tecnologia, do melhores equipamentos e preços mais convenientes. Tudo isso e mais o entendimento que, seja qual for a escolha, faltarão, de parte a parte, meios para a bisbilhotagem que for conveniente.

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