EDITORIAL | Jogo para perdedores

Dentro do Brasil, cuja economia engrenou uma marcha a ré que parece ainda longe do fim, o setor informal, que concentra desde atividades legais conduzidas por autônomos até mecanismos ilegais como pirataria e contrabando, caminha na direção oposta, em franca expansão. Segundo as contas do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, em trabalho realizado e assinado conjuntamente com a Fundação Getulio Vargas (FGV), o setor movimentou, até novembro, R$ 1,3 trilhão, valor equivalente a 16,8% do PIB brasileiro, comparável à soma da produção total de países como a Suíça e a Suécia.
Estes dados ajudam a explicar como e porque a atividade econômica vai, aos poucos, voltando ao normal, porém sem que a economia dê sinais de recuperação, com indicadores que presentemente apontam recessão técnica, conforme já comentado neste espaço. Cabe registrar, nesta mesma linha, que estudos recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e referentes ao terceiro trimestre do ano demonstram que 40,6% da força de trabalho permanece na informalidade.
São dados que nos ajudam a enxergar um outro Brasil, apartado pela realidade, do qual se pode dizer, em termos, que é constituído por gente que nunca alcançou ou foi expulsa da formalidade, onde a burocracia, ou o fardo de ajudar a carregar um Estado obeso, consome ganhos a um ponto em que a sobrevivência deixa de ser possível. São maiores os riscos, evidentemente, assim como a instabilidade, mas a estes desvalidos não restaram alternativas.
Nessas condições, um jogo de perdedores, faltando porém a compreensão de que o outro lado, e para isso não é necessário considerar as atividades que beiram a ilicitude, também sai perdendo.
Mesmo num país em que os poderes constituídos parecem não ter tempo, ânimo ou interesse em apontar caminhos e encontrar saídas, obviamente que a informalidade produz efeitos deletérios, seja qual for o ponto de vista a partir do qual seja analisada. Houvesse espaço para pensar diferente claramente saltaria à vista que a economia seria fortalecida na mesma proporção em que a informalidade fosse reduzida. Uma estratégia possível, inteligente e, sobretudo, ao alcance da vontade. Basta saber que 16,8% do PIB brasileiro não é pouca coisa.
Faltaria ainda o entendimento de que a sucessão de crises, gerando instabilidade permanente, combinada com insegurança jurídica igualmente ajuda a debilitar as atividades formais, forçadas a buscar desvios, mesmo que num contexto precário. Escapar desse dilema muito provavelmente será o maior dos desafios.
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